A crescente complexificação do ecossistema noticioso é, e será cada vez mais, muito exigente para os jornalistas, defende Carlos Castilho no seu artigo semanal no Observatório da Imprensa, com o qual o Clube Português de Imprensa mantém uma relação de parceria.

As fontes desta complexidade são várias, e o jornalista comenta algumas delas na sua reflexão, começando pela “avalanche informativa provocada pela internet e pela digitalização”, que, segundo o autor, tornou praticamente “impossível a produção de notícias com poucas palavras”.

Actualmente, os jornalistas precisam de ter a capacidade de “transformar estatísticas, factos e eventos cada vez mais complexos em notícias publicáveis”. “Situações outrora simples, onde uma notícia geralmente se preocupava em destacar o lado bom e o lado mau dos acontecimentos, ganharam hoje uma grande complexidade por envolverem dezenas de versões diferentes sobre um mesmo facto”, refere Carlos Castilho.

Este processo fica ainda mais dificultado pela pressão do tempo, uma vez que “a preocupação em chegar primeiro” continua a ser um “dogma” e é preciso não deixar cair a “exactidão” e o rigor. “Se estas preocupações já eram angustiantes nos tempos pré-internet, agora transformaram-se num stress permanente”.

É por isso que Carlos Castilho descreve os tempos actuais como sendo de tensão entre dois modelos:  o “modelo convencional”, que procura ajustar o “exercício da profissão aos requisitos industriais da imprensa”, e um “sistema ainda desconhecido” alimentado pela “cacofonia informativa nas redes sociais”.

Um segundo aspecto comentado pelo autor é o dos novos comportamentos que os jornalistas precisam de adoptar para sobreviver neste ecossistema acelerado.

Conseguir simplificar os assuntos ao mesmo tempo que se explica a sua complexidade “é talvez o maior desafio a ser enfrentado pelo jornalismo”. Para isso, os “profissionais formados na era analógica” precisam de incorporar duas novas formas de estar: “colaboração” e “fatiamento”.

Por um lado, perante a crescente complexidade da abordagem aos temas, o jornalista precisa de ganhar “consciência das suas limitações” e de trabalhar em colaboração com “pessoas que sabem o que ele não sabe”. Os profissionais têm de estar   “interconectados” para verificação mútua das informações publicadas e “actualização permanente das notícias”.

Por outro lado, a publicação constante de “novos factos e versões” de assuntos complexos “faz com que se torne inevitável o ‘fatiamento’” das questões no momento de as explicar ao grande público. Simultaneamente, isto exige que os jornalistas tenham “sempre uma visão global do problema para não desorientar o leitor, ouvinte ou telespectador” e para “evitar que a notícia leve a percepções distorcidas”.

Finalmente, o autor do artigo reflecte sobre “a anabolização da avalanche informativa”. Isto é, o aumento exponencial da quantidade de informação disponível no “já labiríntico ambiente noticioso”.

Apesar de a preocupação muitas vezes estar centrada na “eventual automação dos processos de produção de notícias”, o que mais assusta agora, segundo o jornalista, é “o volume de informações e a valorização dos bancos de dados” que os jornalistas têm de ser capazes de dominar.

Se a complexidade dos ecossistemas informativos já é grande, a previsão é que se torne ainda maior, sem sabermos o que nos espera no futuro. Ainda assim, “tudo indica que o jornalismo se tende a tornar cada vez [mais] uma actividade que exigirá uma alta qualificação dos seus profissionais”, conclui Carlos Castilho.

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