“Um elemento essencial de transparência e responsabilidade na prática do jornalismo é fornecer as fontes de onde vem a informação”, começa por referir a jornalista e professora, Milagros Pérez Oliva, num artigo publicado em Cuadernos de Periodistas.

“A identidade das fontes é uma informação relevante, pois permite ao leitor avaliar e contextualizar o conteúdo da informação, avaliar a idoneidade das próprias fontes e fazer um julgamento sobre a qualidade do processo de informação”, refere a autora.

“Embora o meio deva ser sempre o garante último da veracidade das notícias que divulga, a publicação das fontes também permite um maior controlo externo da qualidade e é um antídoto para o abuso de posição do próprio jornalista, que pode ser tentado a intervir nos acontecimentos manipulando o conteúdo, contando com supostas fontes anónimas”, continua.

“Sempre que possível, portanto, as fontes devem ser identificadas. Embora nem sempre seja possível fazê-lo. Existem questões críticas que merecem ser conhecidas pelo público, mas pela própria natureza conflituosa do assunto, a sua divulgação acarreta risco para as fontes. Nesses casos, a identidade pode ser mantida oculta. A maioria dos livros de estilo e códigos deontológicos aceita esta possibilidade, embora sempre que se justifique e nunca como primeira opção, mas sim como último recurso”, considera a professora.

“Infelizmente, na prática, abusou-se tanto de fontes anónimas, que estas se tornaram uma fonte de descrédito para o jornalismo”, alerta a autora.

“Houve casos notórios como o de Janet Cooke, que ganhou o Prémio Pulitzer, em 1981, por causa de uma história falsa sobre uma criança viciada em drogas, publicada no The Washington Post; ou o caso de Jayson Blair, um jornalista, estrela do The New York Times que, até 2003, inventou dezenas de notícias e reportagens usando o anonimato das fontes, ou a de Claas Relotius, que fez o mesmo para o Der Spiegel e foi demitido em 2019, depois de ter recebido inúmeros prémios por reportagens sobre pessoas, factos ou testemunhos forjados”, relata a professora.

“Todos eles são casos extremos de más práticas e de fraude jornalística, mas o uso de fontes anónimas sem justificação ainda é muito comum e dá margem a todo o tipo de abusos. Muitas vezes, o uso de fontes anónimas é resultado de uma submissão do jornalista à fonte para continuar a contar com a sua colaboração no futuro. Outros, para conforto do próprio jornalista, que não se esforçou o suficiente para encontrar fontes citáveis”, explica.

“Para determinar quando se justifica que a fonte permaneça anónima, é conveniente fazer a si mesmo algumas perguntas. A primeira: se a informação oferecida por essa fonte é vital para poder publicar a notícia, ou se existem outras formas de obter e verificar a informação. Se devido à sua posição e conhecimento é, ou não, uma fonte solvente”, ou seja, digna de crédito.

Outra questão a reflectir será a de que, se a informação que a fonte “fornece tem dados objectivos que podem ser comprovados, ou é uma opinião ou conjectura pessoal”.

Para além disso, na opinião de Oliva, “também é preciso deixar claro o motivo pelo qual a fonte fornece a informação e os motivos do pedido de anonimato. Outra informação importante é se a fonte tem poder e o está a usar, ou se é vítima da situação denunciada”.

“Se após uma avaliação criteriosa se concluir que a fonte é fidedigna e a informação verdadeira, o jornalista pode publicá-la mantendo o anonimato; embora, nesse caso, deva levar em consideração que o risco se move da fonte para o mensageiro e aí, o jornalista deve assumir as consequências. Em prol da maior transparência possível, procurar-se-á dar ao leitor elementos indirectos sobre a posição da fonte, que lhe permitam avaliar a sua pertinência”, diz a autora.

“Um caso diferente, mas também cada vez mais frequente, é a publicação de informação obtida através das redes sociais ou da internet, que não pode ser verificada, pois provém de relatos sobre os quais não há certeza suficiente. Neste caso, devem ser tomadas precauções. Geralmente acontece na cobertura de conflitos em países aos quais a imprensa não tem acesso livre. Se optar por publicar a informação, deverá indicar claramente como foi obtida, a impossibilidade de a verificar e o risco de não ser verídica”, conclui a professora.