“Os meios de comunicação de massa estão mortos, mas alguns ainda não sabem”, afirma Miguel Ormaetxea, jornalista espanhol, especializado em economia e tecnologia, no seu último artigo publicado no media-tics.

O autor começa por dizer que sempre gostou de Jeff Jarvis, jornalista e analista de media. Sobre ele, refere o livro, "The Gutenberg Parenthesis", no qual Jarvis afirma que o jornalismo de massa é descendente de Gutenberg, quando inventou a impressora.

Recorde-se que o jornalista Carlos Castilho, do Brasil, também falou em Gutenberg, recentemente.

Ormaetxea concorda com Jarvis, quando este afirma que foi a “industrialização da imprensa que veio aumentar a circulação dos jornais, de uma média de 4 mil, no final do século XIX, para centenas de milhares e milhões no século seguinte” e “que deu escala aos media”. Citando Jarvis, o autor refere que esta foi uma forma “de tratar o público como um objecto, como audiência, em vez de participante", tal como acontece na área digital, nos dias de hoje, segundo o jornalista.

“O conteúdo é mercantilizado para atrair a atenção do público, que por sua vez é vendido como mercadoria”, afirma o jornalista espanhol.

“O resultado é bastante desastroso e os [media] digitais chegaram ao lodo”, diz Ormaetxea. “Os magnatas da era mecanizada, os Hearts, Pulitzers, Bennetts, Murdochs, construíram os seus impérios sob o tráfico” na internet, acrescenta.

Segundo o autor, os jornais digitais começaram a ter “novas formas de caçar as suas presas: redes sociais, clickbait, etc.”, mas sobre isso, “Jarvis é retumbante: não é no tráfego que reside o valor da Internet", cita o jornalista, que afirma que agora, o valor está no discurso e na conversa. No entanto, vamos demorar “muito tempo a reconstruir o valor das habilidades de conversação. Agora temos uma desordem brutal”, considera.

Miguel Ormaetxea diz que basta ir a um dos poucos quiosques que restam em Espanha, olhar para as primeiras páginas dos principais jornais impressos, para se “descobrir que algumas das regras mais sacrossantas do jornalismo estão a ser violadas: misturar informação com opinião na forma mais descarada, partidarismo militante olhando para os seus mestres e não para o serviço público, manchetes mentirosas que buscam a audiência a qualquer preço. Nós, os veteranos deveríamos chorar”, diz.

O autor refere que “75% dos jovens espanhóis se informam através do Tik Tok, cheio de lixo”. Entretanto, o Bad Bot Report informa que “47,4% do tráfego da internet está ocupado por bots, que são cada vez mais usados ​​para fins maliciosos”, acrescenta.

Os meios de comunicação digital “puros, cometeram o mesmo erro, muitas vezes, de apostar no tráfego, secundados pelo rolo compressor do Google. Mas agora que o motor de busca perdeu o seu lugar, muitos navegam em direcção à cascata”, afirma, para sustentar a sua ideia acerca do possível encerramento de mais alguns meios de comunicação digitais, como aconteceu, recentemente com o BuzzFeedNews e outros.

Portanto, “só há uma fórmula: apostar na qualidade, nas regras do jornalismo rigoroso, na fidelização das suas audiências, mais do que no seu número, na recolha e sistematização dos seus dados, no seu marketing, mais do que na sua publicidade, que necessita de se reinventar. Não sigam os políticos desaparecidos, não enalteçam pequenos personagens de uma tarde, não se copiem uns aos outros”, aconselha Miguel Ormaetxea. É preciso “conversação, conversação autêntica”, conclui.