É frequente ouvirmos falar de como o jornalismo é uma profissão muito exigente, com longos períodos de trabalho e em que por vezes é preciso acompanhar histórias emocionalmente pesadas.

Nesse sentido, existem vários estudos para conhecer os factores que afastam os jornalistas das redacções.

“Mas estamos a deixar escapar algo essencial nessas investigações”, diz Gregory Perreault, professor de Literacia Mediática e Analytics nos media na Universidade de South Florida, co-autor de um estudo recente sobre o que dá alegria aos jornalistas no seu trabalho.

“Se calhar, mais importante do que [perceber] por que motivo os jornalistas deixam a profissão é compreender o que os encoraja a ficar”, afirma num artigo publicado no Nieman Lab.

Através da realização de entrevistas a 20 jornalistas a trabalhar nos Estados Unidos, Perreault e a sua colega Claudia Mellado, da Pontifícia Universidade Católica de Valparaíso, no Chile, reuniram experiências sobre o que dá alento aos profissionais no seu trabalho diário.

Um dos elementos mais significativos partilhados pelos jornalistas entrevistados foi a ideia de que, ao exercer esta profissão, se está a cumprir uma função de serviço público.

Regine Cabato, correspondente do Washington Post em Manila, Filipinas, falou sobre a alegria que lhe dá a oportunidade de servir diariamente as pessoas através da partilha de histórias de vida. “Uma vez fiz uma reportagem sobre reclusos que se dedicaram à arte, porque senti que era importante mostrar o que a justiça de reabilitação pode fazer numa altura em que as pessoas querem que os criminosos sejam mortos. Depois de a história ser publicada, um funcionário do Governo disse-me que as vendas dos quadros tinham disparado”, descreveu a jornalista, comentando que o impacto destas histórias também lhe dá força para ultrapassar os dias maus.

Além do serviço público, aquilo que muitas vezes dá satisfação aos profissionais é a relação de confiança que desenvolvem com os entrevistados. “A pessoa está a contar-me a sua história de vida e tem de confiar que eu estou a entender o que me está a dizer e que vou reproduzir bem” o seu relato, partilhou um dos participantes no estudo.

Noutros casos, os entrevistados sublinharam que o jornalismo é uma forma de trabalho em que se está constantemente a aprender com as histórias dos outros.

Os participantes no estudo falaram sobre o impacto do trabalho nas suas próprias vidas — “há histórias que nos motivam a ser generosos”, disse um deles —, mas também sobre os valores que é necessário ter para ser repórter, sublinhando a vertente humana da profissão. “Acho que não se consegue estar neste trabalho sem ser generoso, empático”, partilhou um dos inquiridos, acrescentando que é preciso “perceber bem as pessoas para fazer a ligação entre elas e o público”.

Finalmente, outro factor que traz alegria aos dias de trabalho é o ambiente na redacção. A boa relação com os colegas é não só uma fonte de apoio emocional quando se está a fazer a cobertura de histórias mais pesadas, mas também uma forma de ampliar a boa-disposição quando se acompanham histórias ligeiras.

O artigo de Perreault e Mellado está disponível na revista científica Journalism Practice.

(Créditos da fotografia: Kenny Eliason no Unsplash)