Murdoch acusado por Obama de alimentar a polarização da sociedade

O ex-presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, sugeriu que o império mediático de Rupert Murdoch tem conduzido a uma maior polarização nas sociedades ocidentais, através da cobertura noticiosa desenhada para "tornar as pessoas zangadas e ressentidas". Falando para uma plateia alargada no Sydney's Aware Super Theatre, Obama relatou memórias da sua infância e das viagens pela Austrália e fez observações incisivas sobre o discurso político actual.
Questionado pela ex-ministra das Relações Exteriores da Austrália e moderadora, Julie Bishop, sobre a história do bipartidarismo no sistema político dos EUA, Obama reflectiu sobre a composição predominantemente masculina anglo-americana dos senadores e representantes, na época em que foi eleito para o Senado dos EUA, em 2004, e sobre as divisões que persistiram desde então.
"Há outro factor que provocou esta polarização. Isto é global, não é exclusivo dos Estados Unidos, e são as mudanças nos meios de comunicação e na história que é contada às pessoas. E há um tipo que você pode conhecer, de nome Rupert, que foi responsável por muito do que está acontecer”.
E Obama enfatizou:" Rupert Murdoch, realmente aperfeiçoou o que é uma tendência mais ampla, o advento da televisão por cabo, do rádio talk e depois das redes sociais. A dissolução do monopólio de alguns árbitros das notícias e dos padrões jornalísticos que surgiram na era do pós-Segunda Guerra Mundial."
O ex Presidente expressou preocupações sobre a actual tendência de politização de identidades e o impacto da inteligência artificial na disseminação de notícias falsas e discursos de ódio. Afirmou que os media estão mais interessados em gerar cliques e adesão do que em promover uma conversa partilhada e uma narrativa comum.
"Agora é um faroeste e uma fragmentação dos media- observou. E se só vêem os programas da Fox News, ou da Sky, representando uma única fonte de notícias, a única versão da história. E a propósito, na América, os progressistas dizem: bem, vamos ter as nossas próprias notícias e a nossa própria perspectiva”.
Noutro passo da sua conferência Obama considerou que “já não há uma conversa conjunta e uma história partilhada. E a economia nos meios de comunicação, dos cliques, baseia-se no modo de atrair a sua atenção. Bem, a maneira mais fácil de atrair a atenção sem ter que ter muita imaginação, reflexão, ou coisas interessantes a dizer, é apenas fazer com que as pessoas fiquem zangadas e ressentidas e fazê-las sentir que alguém está tentar mexer com elas e a tirar o que lhes pertence por direito”.
"E se adicionarmos um pouco de racismo, xenofobia e sexismo e homofobia, tudo isso, porque agora estamos no campo da política de identidade, torna-se muito difícil chegar a um compromisso".
Obama, criticou, finalmente, a concepção de poder baseada em violência e coerção e enfatizou a importância de uma abordagem mais moderna baseada no respeito mútuo e no Estado de Direito.