Mudanças na “Al Jazeera” para o Qatar “emagrecem” redacções

A Al Jazeera English planeia fechar o seu centro de transmissões ao vivo que opera no arranha-céus Shard, em Londres, e transferir a a sua programação para o Qatar. Esta mudança, do Reino Unido para Doha, pode envolver a extinção de dezenas de postos de trabalho naquele país.
Num email enviado para a equipa, o director administrativo da rede, Giles Trendle, diz que a Al Jazeera (AJ) procura “realizar uma reestruturação que envolve a mudança da programação ao vivo da AJ para Doha. A mudança incluirá os programas de informação produzidos em Londres, bem como o programa The Stream, produzido em Washington DC”.
No entanto, a equipa que produz esta programação ao vivo terá “a oportunidade de se mudar para Doha”, diz Trendle.
Os colaboradores do escritório de Londres tiveram um aumento salarial de 9% no final de 2022, depois de ameaçarem entrar em greve, pouco antes do Qatar receber o Campeonato Mundial de Futebol.
Estima-se, agora, que cerca de 40 postos de trabalho estejam em risco e espera-se que a produção de talk shows e documentários continue em Londres, após a mudança que irá acontecer com as transmissões de notícias ao vivo.
Um porta-voz de Bectu, um dos sindicatos que representa parte dos jornalistas do canal, diz que foi informado acerca deste plano “extremamente decepcionante”, mas ainda não tem mais informações. “O sindicato está à procura de mais detalhes sobre as propostas”, nomeadamente sobre “quais serão os cargos que foram sinalizados para demissão e como é que esse número foi alcançado”, pelo que se reunirá com a empresa brevemente, acrescenta.
A visão original da Al Jazeera English, fundada há 17 anos, era ter uma rede global a produzir notícias ao vivo, a partir de bases de transmissão em Kuala Lumpur, Washington DC, Londres e Doha. Os centros da Malásia e dos Estados Unidos já estão encerrados, e esta última mudança vai centralizar as operações da rede no Qatar.
Não se espera que o encerramento do centro de transmissões ao vivo afecte os correspondentes e a equipa de filmagens do Reino Unido, que reportam as notícias britânicas, e a redacção do Shard permanecerá aberta.
Recorde-se que a extinção de postos de trabalho vai somar-se às centenas de cargos que foram eliminados ou postos em risco, na área dos media, no Reino Unido, no ano passado, quando a BBC anunciou cortes profundos na sua produção ao nível mundial, parando de produzir programas de rádio em 10 idiomas, incluindo em línguas como o chinês, árabe e hindi.
Para além disso, mais de 50 funcionários do Independent estiveram em risco de ser demitidos, com a alegação de um declínio no mercado de anúncios digitais e a degradação das condições económicas.
Outro caso foi o da DC Thomas, editora de jornais como o Press and Journal e Courier, que anunciou os seus planos para cortar quase um quinto da sua força de trabalho e fechar quase 40 revistas como parte de uma “reinicialização digital”.