“É dever de cada pessoa expandir o horizonte da liberdade por meio das suas acções, para que a luz se infiltre e vença a escuridão”, escreveu Afanasyev a partir da prisão preventiva, numa carta aos seus apoiantes.

“Peço muito que me escrevam, muito mesmo! Ajuda-me muito… Só quero ser jornalista, fiel à minha profissão até ao fim e defender os seus valores.”

“O jornalismo russo independente poderia ter cedido e desmoronado no ano passado, sob o peso de novas leis que criminalizam “notícias falsas” e referências à guerra que parecem proibir as reportagens mais honestas”, refere Mark Rice-Oxley no artigo publicado pelo Guardian.

“Para derrotar Putin, devemos apoiar os bravos jornalistas russos que dizem a verdade”, afirma.

O autor relata que no início de Março de 2022, a “media tradicional”, como o Echo of Moscow, foi encerrada e muitos grupos de media internacionais tiveram de suspender as filiais de Moscovo, para não arriscarem que os seus repórteres fossem presos.

No entanto, centenas de jornalistas independentes, como Afanasyev, permanecem na Rússia e continuam a relatar as notícias com “um surpreendente nível de visão apurada sobre os erros do exército russo, os efeitos da primeira mobilização da Rússia desde a Segunda Guerra Mundial e o controle cada vez maior de Vladimir Putin no poder”.

O artigo, refere também o caso da jornalista Maria Ponomarenko, que foi condenada a seis anos de prisão, por escrever um post sobre o bombardeamento do teatro de Mariupol. “Nenhum regime totalitário parece tão forte quanto antes do colapso”, declarou a jornalista no seu discurso final no tribunal.

Outros escolheram a opção mais segura do exílio. Mais de mil jornalistas deixaram a Rússia durante as primeiras semanas de guerra, parte de um enorme êxodo de centenas de milhares de russos que fugiram do país no ano passado.

Entre eles estavam jornalistas da TV Rain, a última emissora independente de TV russa, cujo site e escritórios sofreram uma rusga policial nos primeiros dias da invasão da Ucrânia.

A TV Rain, estabeleceu-se primeiro na Letónia, mas os seus jornalistas foram forçados a mudar-se novamente depois de um dos seus correspondentes ter feito uma ligação, não programada, para fornecer ajuda não especificada aos soldados russos.

O incidente, que levou a Letónia a suspender a licença de transmissão da TV Rain, é um exemplo da desconfiança em que vivem a oposição russa e os oponentes da guerra no exílio.

Desde então, a Holanda concedeu ao canal uma licença de transmissão de cinco anos, e os seus jornalistas trabalham agora a partir de um estúdio localizado num canal de Amsterdão.

“É a quarta vez que me mudo desde o início da guerra. Todas as vezes tive que recomeçar de novo”, disse uma das apresentadoras do TV Rain ao Guardian.

“Mas não posso reclamar muito. Temos que continuar a fazer o nosso trabalho. Pelo menos tenho um lugar para morar e a minha casa não está a ser bombardeada.”