De acordo com um artigo publicado no Observatório de Imprensa do Brasil, com o qual o CPI mantém uma parceria, Wellington Felipe Hack destaca a importância de um texto, seja na filosofia ou no jornalismo, ser compreensível ao grande público, indo além da estrutura textual para explorar seu esquema conceptual.

“Se esse propósito não for evidente, talvez a caminhada terá sido em vão”, escreve.

“Aqui não nos interessa apenas a estrutura textual, mas aquilo que podemos chamar de seu esquema conceptual – parafraseando P. F. Strawson –, que se materializa pelo uso da palavra”.

A abordagem “hermenêutica” é destacada considerando que os jornalistas, muitas vezes inconscientemente, desempenham um papel interpretativo na sua prática diária. O artigo faz, por isso, uma analogia entre o deus grego Hermes – mensageiro dos deuses e que é também “o deus que protege as estradas, a linguagem, a magia e a diplomacia”, por isso, patrono da comunicação – e a tarefa hermenêutica dos profissionais da imprensa.

“O texto não analisa a fundo a filosofia presente no mito de Hermes, o patrono grego da Comunicação, mas resgata dois aspectos desse deus que se relacionam directamente à produção de notícias: a sua hermenêutica, ou seja, sua capacidade de traduzir mensagens, e a sua renúncia ao Olimpo para ficar junto à humanidade”, compara Hack.

O autor destaca a importância do texto jornalístico de qualidade, que deve ser  de fácil interpretação sem depender de outras fontes. 

“Mas o acontecimento jornalístico, como coloca Adelmo Genro Filho, não se dá de forma isolada. Ele é um acontecimento que se manifesta em um universal e que se cristaliza no singular”, refere.

O jornalista deve, por isso, recorrer às suas técnicas para traduzir esses eventos, conseguindo “atender à tarefa hermética de inseri-lo em um universal compreensível”.

“Hermes, sendo o mensageiro entre os dois mundos, era quem fazia essa tradução – daí o nome do método de pesquisa e de interpretação chamado de hermenêutica”, explica Hack.

Para o autor, torna-se assim fundamental que a imprensa vá além do evento singular, contextualizando-o e considerando as suas influências políticas, económicas e ambientais.

“Ser jornalista é, por exemplo e à sombra de Hermes, ter a capacidade de explicar como a aprovação de uma lei que permite o represamento de pequenos cursos d’água, torna-se singular ao ser um acontecimento manifestado em um universal dado – isto é, o Brasil no qual agro-empresários e latifundiários interferem na política”, exemplifica Hack.

A decisão de Hermes de viver junto à humanidade é resgatada como um importante princípio para o jornalismo contemporâneo. Destaca-se a escolha de estar ao lado da sociedade, compreendendo um universal mais amplo e praticando uma abordagem noticiosa atenta às relações sociais, ambientais e globais.

“Escolher o lado social não é renegar, todavia e por completo, as instâncias que naturalizamos como sendo superiores ao corpo social. Trata-se de uma escolha por compreender um outro universal, uma possibilidade de prática noticiosa que esteja atenta às relações entre humanos, entre ambientes e entre mundos. Fazer uma escolha hermenêutica, traduzir mensagens e permanecer junto à sociedade, devem figurar os propósitos do jornalismo”, escreve.

O artigo conclui destacando a convergência entre a filosofia antiga, a teoria jornalística contemporânea e os mitos gregos, enfatizando a importância de resgatar um jornalismo filosófico e uma filosofia jornalística, propondo um esforço hermenêutico para incentivar reflexões profundas sobre a sociedade por meio da prática jornalística.