Jornal mais antigo do Mundo utiliza IA para reinventar jornalismo
O "Berrow's Worcester Journal", alegadamente o jornal mais antigo sobrevivente do mundo, está a adoptar a inteligência artificial (IA) para transformar a forma como as notícias locais são reportadas.
O jornal, publicado pela primeira vez em 1690 e, actualmente, gratuito com o conteúdo do "Worcester News", é uma das várias publicações da segunda maior editora de notícias regionais do Reino Unido.
A Newsquest, que publica mais de 200 títulos, incluindo o "Glasgow Herald", o "Brighton and Hove Argus" e o "Lancashire Telegraph", contratou oito repórteres "assistidos por IA" em várias redacções do país no último ano.
Estes repórteres utilizam uma ferramenta interna baseada na tecnologia ChatGPT, um chatbot aprimorado com base em informações recolhidas na internet. Ao inserirem "conteúdos de confiança," como actas de reuniões locais, a ferramenta transforma esses dados em notícias concisas, libertando outros repórteres para coberturas mais envolventes e investigativas.
A editora do "Worcester News", Stephanie Preece, destaca que a IA não substitui a presença humana em locais de eventos importantes, mas permite que os jornalistas se concentrem em tarefas mais complexas.
"A AI não pode estar no local de um acidente, no tribunal, numa reunião do conselho, não pode visitar uma família em luto ou olhar alguém nos olhos e dizer que está a mentir. A única coisa que faz é libertar os repórteres para fazerem mais disso", diz Preece. "Em vez de fugirmos dela ou de termos medo dela, estamos a dizer que a IA veio para ficar, por isso, como podemos aproveitá-la?", questiona.
Contudo, explica ainda que, a ferramenta da Newsquest não gera conteúdo: um jornalista treinado insere informações, que são então editadas e ajustadas, se necessário, por um editor de notícias-
O director executivo da Newsquest, Henry Faure Walker, salienta que a introdução desta função foi inestimável numa situação em que o jornal Hexham Courant, em Northumberland, foi destaque nacional.
"O repórter do sistema de IA poderia praticamente segurar o ‘forte’ durante a semana, enchendo o jornal, e libertou o outro repórter para sair e fazer coisas de investigação realmente boas, vídeos e ficar por trás da história, o que não poderíamos fazer”, justifica o director.
A chefe editorial de IA da Newsquest, Jody Doherty-Cove, enfatiza as salvaguardas, incluindo formação extensiva e um novo código de conduta, para abordar preocupações sobre a precisão da IA. Doherty-Cove prevê que o uso da IA como ferramenta de redacção se torne comum no futuro.
"No futuro, o termo repórter de sistema de IA será tão redundante como o termo repórter assistido pela Internet soa agora", defende. "A Internet tem ajudado os jornalistas a encontrar informação e a criar histórias mais enriquecedoras, e a IA também oferece esses benefícios”.
O contexto actual do jornalismo, com cortes de empregos e o declínio de publicações locais, destaca a necessidade de inovação. Outras editoras, como a Reach, testaram a utilização da IA para escrever notícias, suscitando debates sobre o papel da tecnologia na indústria jornalística. No entanto, a transformação tem sido vista como vital para enfrentar os desafios em curso e manter a relevância no panorama mediático em constante evolução.