O Governo israelita está a pressionar o jornal Haaretz para que apoie o Governo na condução da guerra em Gaza.

Num artigo publicado no NiemanLab, Colleen Murrell explica que o ministro da Comunicação, Shlomo Kar sugeriu sanções financeiras devido à alegada promoção de "propaganda falsa e derrotista" e por "sabotar Israel em tempo de guerra". 

A proposta visa cancelar as assinaturas estatais do jornal e "proibir a publicação de avisos oficiais".

O sindicato dos jornalistas criticou a medida como uma "proposta populista desprovida de qualquer viabilidade lógica". 

Em outubro, o governo decretou um regulamento de emergência que permite encerrar temporariamente meios de comunicação estrangeiros considerados prejudiciais para o país. Esta legislação permite o encerramento e o bloqueio do sinal de qualquer meio de comunicação social durante 30 dias.

O Haaretz referiu, em 15 de outubro, que um projeto anterior de legislação intitulado "Limitar a ajuda ao inimigo através da comunicação" incluía planos para a imposição de limitações abrangentes aos meios de comunicação social nacionais e estrangeiros, mas esta não foi incluída na nova lei.

De acordo com a autora, a intenção de Karhi com esta legislação era também encerrar a estação de televisão do Qatar, Al Jazeera. No entanto, o Governo recusou esta proposta específica devido ao papel do Qatar nas actuais negociações sobre reféns e prisioneiros.

Times of Israel noticiou que esta legislação foi utilizada para impedir as emissões do canal libanês Al-Mayadeen TV em Israel e nos territórios palestinianos ocupados por "razões de segurança".

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, acusou o canal de ser "um porta-voz do Hezbollah" e os jornalistas de "apoiarem o terrorismo, fingindo serem repórteres".

Murrell relembra que uma semana depois, dois repórteres da estação foram mortos num ataque aéreo israelita no sul do Líbano. O correspondente Farah Omar e o operador de câmara Rabih al-Maamari estavam a cobrir os disparos entre o Hezbollah e Israel em Tayr Harfa, quando foram atingidos.

O Comité para a Protecção dos Jornalistas apelou a "uma investigação independente sobre o assassinato de jornalistas". O Comité sublinhou que "os jornalistas são civis que fazem um trabalho importante em tempos de crise e não devem ser visados pelas partes em conflito".

De acordo com o Times of Israel, em termos de censura interna, "todos os artigos, tanto nos meios de comunicação tradicionais como nas redes sociais", que tratem de segurança e informações, têm de ser enviados ao censor-chefe, Kobi Mandelblit, para aprovação antes da publicação. 

Times informou que o jornalismo do Haaretz tem sido "amplamente favorável ao esforço de guerra, embora altamente crítico em relação ao governo".

Ao atacar o jornal, Shlomo Karhi escreveu uma carta ao secretário de gabinete Yossi Fuchs, na qual citava alguns artigos que eram, de facto, colunas de opinião em vez de notícias directas.