Uma caricatura publicada na revista alemã Der Spiegel, que representa o aumento de população na Índia, é considerada como “racista” por vários políticos indianos.

A imagem, que retrata as conclusões do Relatório sobre a Situação da População Mundial 2023 do Fundo de População da ONU, provocou fortes reacções dos indianos.

A revista alemã é acusada de humilhar a Índia.

O desenho mostra um velho comboio indiano, frágil, cheio de passageiros, pendurados na parte de fora ou a viajar na parte de cima do veículo. Numa via paralela, um elegante comboio chinês, de alta velocidade, é visto com apenas dois maquinistas, que parecem surpreendidos ao ver o comboio indiano.

A ilustração, com a legenda “População: a Índia supera a China” baseia-se no contraste entre a Índia e a China, os dois países mais populosos do mundo. O comboio indiano está a ultrapassar a locomotiva chinesa.

De acordo com um relatório recente publicado pela ONU, a Índia tem uma população de 1.425.775.850 habitantes, estando a caminho de ultrapassar a China e de se tornar o país com mais habitantes do mundo.

Reagindo à ilustração, o ministro de Electrónica e Tecnologias da Informação da Índia, Rajeev Chandrashekhar, escreveu no Twitter: “Querido cartoonista do Der Spiegel … Na sua tentativa em fazer troça da Índia, não é inteligente apostar contra a Índia, sob a liderança do primeiro-ministro Narendra Modi”, seguido de um emoji de um braço, que tem o significado de força. “Dentro de poucos anos, a economia da Índia será maior que a da Alemanha”, conclui.

Por sua vez, o ex-secretário de Estado de Punjab, Sarvesh Kaushal, rotulou a ilustração de “desagradável” e questionou por que é que o “mundo desenvolvido” nunca perde “qualquer oportunidade de atingir a Índia” e de “rebaixar o seu povo”.

Kanchan Gupta, consultor sénior do Ministério da Informação e Radiodifusão, também foi ao Twitter dizer: “Olá, Alemanha, isto é escandalosamente racista. Der Spiegel a caricaturar a Índia desta maneira, não se assemelha à realidade. O objectivo é o de mostrar a Índia em baixo e de bajular a China.”

Alguns indianos referiram ser verdade que alguns comboios se assemelham ao da caricatura, na altura de festivais movimentados, quando milhões de indianos querem ir para casa.

A crítica ocidental sempre irritou os governos indianos, mas sob Narendra Modi, o ressentimento tem sido mais agudo.

Qualquer cobertura negativa, como o recente documentário da BBC, “India: The Modi Question”, que examina o papel do primeiro-ministro nos distúrbios anti-muçulmanos de 2002, é conotado como uma conspiração maliciosa para difamar Modi e, por associação, a Índia.

Recentemente, Baijayant Panda, parlamentar e porta-voz do partido governante, Bharatiya Janata, escreveu uma coluna no Hindustan Times, acusando os media ocidentais de preconceito total contra a Índia.

Panda destacou o New York Times pelo que chamou de “preconceito e rotineiro ataque à Índia”, e acrescentou: “o que é peculiar é o abandono da objectividade na busca obstinada de uma narrativa predeterminada”.

Em 2014, o New York Times publicou uma caricatura que gracejava com a façanha da Índia em colocar uma sonda na órbita em redor de Marte. A ilustração mostrava um indiano com uma vaca, a bater à porta de uma sala com o nome de Elite Space Club. Após protestos, o jornal publicou um pedido de desculpas.