Os editores de notícias de todo o mundo têm tentado calcular quanto é que a Google e o Meta lhes devem pelas notícias que distribuem às audiências. Contudo, segundo defendem, trata-se de uma tarefa difícil devido à falta de dados disponíveis publicamente sobre o comportamento das audiências e porque a falta de concorrência faz com que o preço que as empresas tecnológicas pagam pelas notícias seja baixo. 

Num artigo publicado, na Poynter, Anya Schiffrin e Haaris Mateen apontam que as empresas devem aos editores de notícias nos Estados Unidos um valor entre 11,9 mil milhões de dólares e 13,9 mil milhões anualmente, pela distribuição de notícias.

Schiffrin e Haaris Mateen referem que a pesquisa realizada argumenta que, embora as gigantes de tecnologia argumentem que as notícias não são essenciais, a análise revela que as notícias são importantes para essas plataformas e geram receitas para ambas as partes. 

Por isso, vários investigadores decidiram realizar um estudo, que utiliza “insights” de mais de 50 anos de pesquisa em economia de negociações, para encontrar uma compensação justa pelas notícias.

“As grandes empresas tecnológicas têm resistido a pagar as taxas tradicionais de licenciamento e de direitos de autor e não são muito generosas a fornecer números de tráfego de audiências e de cliques. Os pagamentos que fazem são escassos e muitas vezes através de pequenos subsídios ou acordos privados com os principais meios de comunicação social”, escrevem na Poynter.

Os autores defendem que se os editores pudessem negociar colectivamente, por exemplo, se a proposta de Lei da Concorrência e Preservação do Jornalismo fosse promulgada, os editores receberiam muito mais do que recebem actualmente.

A pesquisa destaca a resistência das grandes empresas de tecnologia em pagar direitos de autor oferecendo, muitas vezes, acordos mínimos por meio de pequenas concessões ou arranjos privados.

O artigo aponta que, ao manterem baixo o custo das notícias, a Google e a Meta enriqueceram com a receita publicitária gerada ao atrair audiência para suas plataformas.

“Não é de surpreender que, ao manterem baixo o custo dos bens vendidos (notícias), a Google e a Meta tenham enriquecido com as receitas de publicidade que obtêm ao atraírem os olhares do mundo para os seus sites. Entretanto, os desertos de notícias tornaram-se um problema global, uma vez que os meios de comunicação social se debatem com a perda de receitas, embora alguns - como o The New York Times e o The Guardian - tenham conseguido compensar as perdas com assinaturas e outras receitas”, explicam.

Os autores salientam ainda as acções tomadas por alguns países, como Austrália e Canadá, para forçar as grandes plataformas a negociarem directamente com os veículos de notícias, visando reduzir o desequilíbrio de poder. No entanto, a falta de divulgação de informações e metodologias de cálculo em acordos já fixados prejudica os meios mais pequenos e os nativos digitais.

O governo aprovou o Código de Negociação dos Meios de Comunicação Social da Austrália, que injectou centenas de milhões de dólares no negócio das notícias naquele país. Em resposta, a Google assinou acordos de pagamento directamente com editores de todo o mundo – que estão abrangidos por acordos de confidencialidade, pelo que os montantes não são tornados públicos.

Os autores propõem uma contribuição para o debate global ao fornecer uma estimativa do valor que as notícias contribuem para as receitas do Google e do Meta. 

Além disso, detalham a metodologia utilizada, permitindo que outros repliquem o trabalho ou o apliquem em cada mercado. As estimativas levam em consideração o valor das pesquisas na internet relacionadas a notícias para o Google e o valor gerado para o Meta pela presença de conteúdo noticioso nas suas plataformas.

Os investigadores sugerem uma divisão de receitas justa entre as plataformas e os editores de notícias, estimando que, com uma divisão de 50%, o Google deve cerca de 10 a 12 mil milhões de dólares aos editores de notícias nos EUA, enquanto o Meta deve, de forma conservadora, cerca de 1,9 mil milhões.

“À medida que as leis se forem espalhando a nível mundial, será fundamental chegar a algum tipo de norma para garantir a equidade dos pequenos estabelecimentos”, escrevem.

Os autores não fornecem recomendações específicas sobre como os fundos devem ser distribuídos, mas esperam que o estudo abra a discussão sobre remuneração, incentivando outros a partilharem dados e a fazer melhores estimativas para um preço mais justo pelas notícias.