Três em cada quatro editores-chefe são homens, diz um estudo do Reuters Institute sobre as questões de género nas posições de topo nas redacções, com dados relativos a publicações de todo o mundo.

Os editores dos jornais e revistas têm muita influência nas decisões que são tomadas e na informação que chega até ao público. Para que possamos conhecer melhor as pessoas que ocupam esses lugares, o Reuters Institute tem publicado, desde 2020, “factsheets” (folhas informativas) sobre os perfis das lideranças editoriais.

Neste caso, são analisadas as questões de género, porque “tal como muitas outras formas de desigualdade, as desigualdades de género podem reforçar percepções distorcidas, desequilíbrios” não só dentro do próprio meio jornalístico, como na forma como os assuntos são abordados nas notícias.

Os dados publicados este ano, que reportam a 2023, incluem informação de 240 publicações offline (jornais em papel, televisão e rádio) e online de 12 mercados em cinco continentes — Quénia e África do Sul, em África; Hong Kong, Japão e Coreia do Sul, na Ásia; Finlândia, Alemanha, Espanha e Reino Unido, na Europa; México e EUA na América do Norte; e Brasil, na América do Sul.

Alguns dados relevantes do estudo:

  • Entre os 174 editores-chefe que foi possível analisar, 24% são mulheres, o que compara com uma média de 40% de mulheres jornalistas nas equipas. O valor subiu em relação aos 22% registados em 2022.
  • Entre as 33 novas lideranças nos títulos analisados, relativamente ao ano passado, 24% são mulheres.
  • Há uma variação muito grande nestas percentagens entre mercados, com o mínimo a ser registado no Japão (0% de mulheres em posição de topo) e o máximo nos Estados Unidos (43%), seguido do Reino Unido (40%).
  • É de notar a ausência de correlação com a proporção de mulheres na população geral. “Continua a dar-se o caso de muitos países que têm boas pontuações no Índice da Igualdade de Género das Nações Unidas (UN GII) terem relativamente poucas mulheres entre os editores-chefe” no seu universo mediático, releva o estudo.
  • Tendo em conta os dez mercados que são acompanhados pelo Reuters Institute desde 2020, a percentagem de mulheres em posição de topo subiu de 23% para 25%.
  • Mas há também diferenças entre mercados quanto às tendências de mudança. As percentagens têm-se mantido iguais no Japão (0%) e no México (6%), e baixaram na Alemanha (de 27% para 25%) e na África do Sul (de 47% para 29%).
  • Uma projecção linear simples baseada no aumento geral de dois pontos percentuais sugeriria que, a este ritmo, a paridade de género nos lugares de editor-chefe poderia ser alcançada em 2074. No entanto, “uma projecção mais conservadora”, olhando para as médias ao longo dos últimos anos em todos os mercados, sugere que essa paridade poderá “nunca” ser alcançada.

Embora haja uma consciência da necessidade de mudar estas desigualdades, em muitos casos os esforços têm vindo a esbater-se, “e nalguns países enfrentam reacções de oposição coordenadas e explícitas por parte de actores políticos de extrema-direita”, diz o relatório.

Nas conclusões, o documento lembra que a percepção que o público tem da falta de diversidade no jornalismo é um dos factores que contribuem para a baixa confiança neste sector, uma vez que esta distribuição não reflecte as características do público que é servido. A abordagem da indústria a estes temas corre o risco de parecer simplesmente “superficial e/ou performativa”, nas palavras do reconhecido jornalista Shirish Kulkarni, citado no estudo.

(Créditos da fotografia: Amy Hirschi no Unsplash)