Conselhos de redacção extintos no “Paris Match” e “Journal du dimanche”

A revista Paris Match e o Journal du dimanche (JDD) deixaram de ter conselhos de redacção no final de janeiro deste ano, anuncia o Le Monde.
As duas publicações ficaram “‘sem contrapoder interno’, perante o controlo do multimilionário Vincent Bolloré”, alerta um antigo membro dos conselhos de redacção citado pelo Le Monde.
O JDD e a Paris Match fazem parte do grupo Lagardère, que também inclui a estação de rádio Europe 1, detido desde Novembro pelo Vivendi, um conglomerado dos media em França, controlado pela família Vincent Bolloré, conhecida pelas suas opiniões ultraconversadoras, tal como explica o Le Monde.
No caso do JDD, jornal semanal, o conselho de redacção votou, por unanimidade, no dia 30 de janeiro, a sua própria dissolução por considerar que aquele se tornou um espaço vazio. O conselho de redacção terá deixado de actuar desde “1 de Agosto, momento em que 95% dos jornalistas escolheram deixar o título agora dirigido por Geoffroy Lejeune”, ligado à extrema-direita, explicaram antigos trabalhadores do JDD ao Le Monde. O conselho de redacção manteve-se em funções apenas para acompanhar a saída dos cerca de 50 jornalistas assalariados e 40 freelancers.
Na Paris Match, revista semanal, o fim do conselho de redacção deveu-se à inexistência de candidatos depois da demissão dos elementos que compunham a estrutura, declarou a agência France-Press (AFP), citada pelo Le Monde.
Os últimos meses na revista foram marcados por várias demissões associadas a queixas de interferência dos proprietários nas escolhas editorais. Numa reunião com a direcção de Dezembro de 2023, o conselho de redacção manifestou-se contra a “escolha de uma primeira página dedicada a um presépio de Natal numa casa parisiense de Vincent Bolloré”, conta o Le Monde. Na sequência desse encontro, descrito como “tempestuoso”, os membros do conselho de redacção demitiram-se.
A associação Artigo 34, criada por ex-trabalhadores do JDD, alerta para o risco “real” do desaparecimento dos conselhos de redacção, estruturas que garantem “o respeito pela ética e pela independência” dos jornais. A referência para o nome da associação é o artigo 34 da Constituição francesa, que defende “a liberdade, o pluralismo e a independência dos meios de comunicação social”.
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