A cada vez maior tendência das pessoas para evitar as notícias é o tema do mais recente livro de Rasmus Kleis Nielsen, director do Reuters Institute for the Study of Journalism, da Universidade de Oxford. O autor fala sobre a obra numa entrevista com o jornalista Chris M. Sutcliffe, publicada no Digital Content Next.

Avoiding the news: Reluctant audiences for journalism é o título do livro, que tem como co-autores Benjamin Toff e Ruth Palmer e que fala em pormenor das causas do fenómeno do afastamento das pessoas em relação às notícias e de possíveis soluções.

As estatísticas do último Digital News Report, do Reuters Institute, apontam para uma percentagem de 36% de pessoas que declaram evitar as notícias “às vezes” ou “com regularidade”.

“Quem são estas pessoas? Porque é que dizem que consomem tão poucas notícias? Como é que se orientam no mundo sem notícias?”: estas foram algumas das questões que Rasmus Kleis Nielsen levantou quando se apercebeu das estatísticas recolhidas para o relatório.

Os números dão que pensar não só sobre a forma como os jornalistas estão a fazer chegar as notícias ao público, mas também sobre os modelos de negócio das empresas de média — e, consequentemente, sobre a sua capacidade de continuar a escrutinar o poder público, reflecte Nielsen.

O director do Reuters Institute fala, então, sobre os motivos que levam as pessoas a evitar as notícias, bem como potenciais ideias para inverter a tendência.

  • O impacto psicológico das notícias negativas: A percepção de que os conteúdos noticiosos são predominantemente negativos é um dos factores centrais para explicar o evitamento das notícias. “O que as pessoas procuram nos média é algo agradável, algo que as ajude a recarregar energias, enquanto enfrentam um novo dia de tarefas exigentes que precisam de cumprir para se sustentar a si mesmas e às suas famílias”, explica Rasmus Kleis Nielsen. Por isso, quando começam a receber demasiados conteúdos negativos e pesados, as pessoas decidem afastar-se. Esta reacção é exacerbada pelo contacto permanente com a informação através das redes sociais. Uma das recomendações é que os meios de comunicação noticiosos adoptem abordagens mais construtivas nas suas reportagens.
  • Publicitários também evitam as más notícias: Os editores devem considerar que “muitos anunciantes não estão interessados em aparecer ao lado de peças de jornalismo que são vistas como sendo polarizadoras e deprimentes”, avança o autor do livro.
  • A falta de representatividade tem implicações no modelo de negócio: Uma boa parte das pessoas entrevistas pelo director do Reuters Institute sente que as notícias não são dirigidas para si. Ora, quando uma pessoa não se sente representada nas notícias, dificilmente se tornará subscritora de um jornal. Os autores do livro sugerem que os editores pensem mais sobre as fontes que têm contactado, os temas que têm abordado, como têm contado as histórias das comunidades e, particularmente, das comunidades locais. Além disso, muitas pessoas não vêem o jornalismo como sendo independente do poder político, o que as leva a afastar-se mais ainda, dado o acrescido desencanto com a política.
  • A participação activa do público aumenta o sentido de pertença: Ainda na sequência do ponto anterior, se as pessoas não acompanham as notícias, é difícil estimular o sentido de comunidade em torno dos conteúdos e das plataformas noticiosas. “As pessoas não beneficiam de qualquer tipo de afirmação social ou reforço” por se juntar a estes grupos sociais, explica Rasmus Kleis Nielsen. Nesse sentido, o autor lembra que há outras formas de “agarrar” o público inicialmente, sem ser através das notícias, sendo disso exemplo os desafios nas secções de jogos e de cozinha do New York Times.

Para terminar, Nielsen desafia: “Eu convidaria os jornalistas e os editores a ler alguns dos testemunhos que os cidadãos nos deram nas nossas entrevistas para o livro, porque acredito que, numa análise mais próxima, alguns dos profissionais talvez aceitem que as pessoas têm razão nalgumas das críticas que apontam ao jornalismo”.

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