O autor defende que, manter os órgãos de informação independentes é caro. Muitos “não conseguem cobrir esses custos, gerando um ciclo vicioso, mas óbvio: sites com baixo desempenho atraem menos tráfego, menos tráfego significa menos patrocinadores, menos patrocinadores significa menos estabilidade financeira”.

A pior consequência desse padrão é o facto de que muitos desses órgãos de informação que “produzem investigações aprofundadas, revelam verdades desconfortáveis, responsabilizam os poderosos e dão atenção a indivíduos e populações sub-representados”.

Isso significa que têm “menos patrocinadores, menos financiamento, o que inviabiliza o investimento em ferramentas para melhorar o ranking desses sites”.

Assim, “talvez inadvertidamente, a Google esteja a empurrar o cenário latino-americano para oligopólios cada vez mais poderosos”. O autor recorda que a “Google faz parte da Alphabet, a empresa que gerou 257 mil milhões de dólares de receita em 2022, após duas décadas de conquista de players importantes da indústria digital”.

Cabrera, em defesa das suas posições, cita um relatório do Center for Media Law and Policy da Universidade da Carolina do Norte que pormenoriza o aparecimento das plataformas electrónicas, que  diminuiu a divulgação de notícias locais, alimentou a polarização e ajudou à desinformação.

O desaparecimento das notícias locais “tem implicações políticas, sociais e económicas significativas para a nossa democracia e sociedade”, afirma, citando outro estudo realizado por Penelope Muse Abernathy, Knight Chair sobre Jornalismo e Economia de Mídia Digital, publicado no site The expansion news desert, que documenta como a imprensa regional local nos Estados Unidos está a desaparecer.

“A Google desempenhou um papel nessa desertificação: um estudo de 2020 publicado na Nature Human Behavior, concluiu que a Google tende a direccionar, preferencialmente, os seus utilizadores para os meios de comunicação nacionais do que para as notícias locais”.

Cabrera, estabelece um paralelo da situação nos EUA, com o que se estará a passar com os sites de notícias independentes na América Latina.

“Muitas vezes, ouvi executivos da Google insistirem que o seu algoritmo não recompensa os órgãos de informação que pagam por palavras-chave ao fornecer tráfego orgânico”.

“Mas, o que eles não estão a admitir é que estão a recompensar aqueles que gastam mais: talvez não na compra directa de palavras-chave, mas em ferramentas caras como Semrush, Chartbeat, plataformas de escuta social e outras para acompanhar o estado de desempenho. Gerir uma redacção sem essas ferramentas é o mesmo que pilotar um avião à vista, sem instrumentos”, afirma o autor.

Uma das iniciativas de notícias mais conhecidas, o Google Innovation Challenge, “produziu dezenas de projectos relacionados com a tecnologia e vários milhões de dólares foram entregues a redacções em todo o mundo, mas a lacuna existente não foi resolvida”. Nenhum desses projectos “abordou com sucesso o problema de como as redacções, de pequeno e médio porte, podem acompanhar os padrões definidos pelo algoritmo da Google”.

Na actualização mais recente, em Setembro de 2022, quando lançou o Helpful Content Update, a empresa prometia que o sistema passava a garantir que “as pessoas vissem os conteúdos mais originais e úteis escritos por pessoas, para pessoas, nos resultados de pesquisa”.

Mas, “não avisou que os órgãos de comunicação precisavam não apenas de bons “conteúdos”, como os entendemos (informações verificadas, cruzadas e confirmadas), mas também de uma panóplia de tecnologias instaladas para responder a todas as velocidades de página, tempo de carregamento, tamanho da imagem e outros KPIs configurados pela Google”.

No entanto, isso exige uma equipa de apoio tecnológico forte. Mas, segundo autor “muitas empresas de media independentes latino-americanas não tem a capacidade económica para o fazer”.

“Talvez a Google precise de uma reformulação do algoritmo, para equilibrar o que está ser exibido e descartar marcas legadas como palavras-chave relacionadas a notícias, e, de um investimento mais profundo para que os meios de comunicação possam aprimorar a sua optimização de desempenho.”

“Talvez, esteja na hora de adoptar uma solução similar à que a Austrália, adoptou em 2021, ao implementar o News Media Bargaining Code, uma legislação que fez com que plataformas como a Google e o Facebook, fossem obrigadas a pagar pelo conteúdo de notícias que distribuíam através dos seus motores de busca”.

“A medida gerou polémica, Tim Berners-Lee, afirmou que a lei poderia "acabar a World Wide Web", e a Google e o Facebook opuseram-se com toda a energia dos seus lobby´s. No entanto, em Agosto de 2022, ficou claro que nada se estragou, especialmente nos meios de comunicação.

De acordo com o Poynter, o Australian News Code acumulou 140 milhões por ano. Isso impulsionou o jornalismo na Austrália. Os meios de comunicação em toda o país estão a contratar novos repórteres. O Guardian contratou mais 50 jornalistas, elevando o total das redacções para 150”.

“Outros países já estão a considerar medidas semelhantes, incluindo EUA, Canadá, Índia e África do Sul. É preocupante que a Google tenha torpedeado uma iniciativa semelhante no Brasil em Maio de 2022”.

“A América Latina precisa, mais do que nunca, de uma media de qualidade, independente e diversificada. As recentes eleições mostraram o nível de polarização que os nossos países estão a enfrentar. O perigo de demagogos e populistas nacionalistas, dispostos a minar as nossas já frágeis democracias, em favor dos seus projectos políticos autocráticos continua a ser uma grande preocupação”, declara o autor.

Se plataformas como o Facebook e a Google não entenderem isso e não estiverem dispostas a “desempenhar um papel real no nivelamento do campo de actuação da media”, estarão a contribuir para o desaparecimento de vozes que “dão cor, diversidade e opções mais amplas aos leitores”, e, portanto, também a contribuir para “o enfraquecimento da própria democracia”, não importa quantos milhões continuem a despejar nos seus programas de “limpeza de consciência”, conclui no seu artigo José Maria León Cabrera.