“O ambiente jornalístico passou a viver uma espécie de frenesim tecnológico depois do lançamento do programa ChatbotGPT, visto por muitos profissionais como uma ameaça poderosa ao exercício da actividade e o consequente aumento do desemprego entre repórteres, editores e comentaristas”.

“A realidade é que estes temores são apenas parcialmente verídicos porque a inteligência artificial vai afectar principalmente os profissionais pouco qualificados seguidores da técnica do ´corta e cola´”, afirma Carlos Castilho no artigo publicado pelo Observatório de Imprensa do Brasil, com o qual o CPI mantém um acordo de parceria.

Segundo autor, a nova infraestrutura tecnológica digital, não é nova nem inédita. “Surgiu há mais ou menos 80 anos com o nome genérico de Inteligência Artificial Generativa, na forma de um programa digital capaz de gerar textos, imagens, sons e códigos inovadores”.  O Chatbot GPT, o Bard, produzido pela Google e outras aplicações similares pertencem a este tipo de tecnologia.

Castilho faz uma análise sobre a ameaça que a inteligência artificial e, mais especificamente, os chatbots como o ChatbotGPT representam para o exercício do jornalismo. Afirma que os temores sobre o aumento do desemprego entre repórteres, editores e comentaristas são parcialmente verídicos, já que a IA afectará principalmente os profissionais pouco qualificados que seguem a técnica do "corta e cola".

A infraestrutura tecnológica do ChatbotGPT e outros como o Bard, são capazes de trabalhar com um volume imenso de dados digitalizados na Internet para realizar combinações e recombinações de factos, eventos e números.

As respostas dos programas de IA Generativa tendem a tornar-se cada vez mais completas à medida que mais dados forem sendo digitalizados. A análise dos textos produzidos em diversas experiências jornalísticas com o ChatbotGPT mostram que a aplicação é boa na montagem de textos conhecidos como "de arquivo", sumarizando factos e eventos passados.

Para Castilho, é evidente, que a inteligência artificial afectará o desempenho dos jornalistas, já que automatizará a produção de textos e imagens de apoio, dando aos profissionais experientes e qualificados mais condições de produzir conteúdos mais criativos e de maior profundidade analítica.

Isso exigirá maior capacitação e conhecimentos dos repórteres, editores, comentadores, ilustradores e programadores, já que as tarefas menos complexas poderão ser desenvolvidas por robôs inteligentes capazes de vasculhar dados e factos digitalizados na internet em tempo infinitamente mais rápido do que o de um ser humano

Para Castilho, também, é inevitável o despertar de novas modalidades de chatbots cujo diferencial estará no tamanho da base de dados sobre a qual eles irão operar. Já existem, por exemplo, softwares, como o Dall E, que produz imagens a partir de palavras chaves fornecidas por uma pessoa. Estamos a assistir ao início de uma corrida pelo mercado de chatbots incluídos no guarda-chuva da inteligência artificial generativa. Por enquanto trata-se de um processo quantitativo, a mais dados vão equivaler melhores respostas, mas a chegada da computação quântica, talvez nos traga algo qualitativamente novo em matéria de máquinas inteligentes.

O autor destaca o problema das respostas dadas por programas de IA generativa, precisarem de ser reinterpretadas por profissionais de jornalismo. “A linguagem corrente é cheia de ambiguidades, vieses, subjectividades que a máquina pode interpretar de forma incorrecta e dar respostas baseadas nesta leitura equivocada”.

Castilho cita Nicholas Diakopoulos, da universidade norte-americana Northwestern que, numa entrevista a Columbia Journalism Review declarou: “O problema não está no software, mas em quem faz a consulta ou pedido. Assim para que a resposta possa ser digna de crédito é preciso que o jornalista tenha conhecimentos básicos de programação para minimizar o descompasso entre o que o profissional quer e o que o programa acha que o repórter ou editor deseja”.

O grande desafio colocado pela inteligência artificial ao exercício do jornalismo, segundo o autor, “é o da qualificação profissional não só na produção de conteúdos, mas também no relacionamento com as novas tecnologias digitais. Escrever bem não é mais a principal virtude de um bom jornalista, mas sim a sua capacidade de expor dados, factos, eventos e ideias, que usando os recursos multimédia, permitam a maior comunicabilidade e interactividade possíveis com o cidadão comum”.

O que nos leva à importância dos bancos de dados, fulcrais na viabilização da inteligência artificial e coloca a questão da origem e localização desses bancos. Castilho exemplifica citando o investigador britânico Nick Couldry, da London School of Economics, que alertou para o surgimento do chamado “colonialismo de dados”, um fenómeno que pode alterar as relações entre nações e empresas.

“Na nova economia digital, quem tem dados tem tudo, o que pode colocar a política mundial de pernas para o ar, já que empresas como a Alphabet (dona do Google e Youtube) e a Meta (dona do Facebook e WhatsApp) dispõem hoje de mais informações sobre o mundo em que vivemos do que qualquer uma das superpotências mundiais como Estados Unidos, China e Rússia”, afirma.

O autor acrescenta que “a quantidade, já inimaginável, de dados em poder de empresas como Facebook, Google e Twitter, acabam por condicionar a nossa maneira de viver, pensar e agir”.

As mudanças na programação dos algoritmos que regem a interactividade dentro de redes sociais “podem alterar, inesperada e imprevisivelmente a forma como fazemos negócios, vivemos em comunidade ou fazemos as nossas escolhas políticas”. Segundo Carlos Castilho os donos de bancos de dados “são cada vez mais os donos do mundo e o GPT é a mais recente arma” do que considera serem os novos “colonos cibernéticos”.