A necessidade da filantropia institucional nas redacções digitais
Num artigo de opinião, Richard J. Tofel – diretor da Gallatin Advisory, uma consultora de jornalismo, e ex-presidente da ProPublica – celebra o fracasso das redacções digitais, destacando a taxa de insucesso de organizações sem fins lucrativos de notícias digitais e a resistência e resiliência do sector.
Tofel começa por destacar uma estatística, apresentada numa conferência, sobre a taxa de insucesso de organizações sem fins lucrativos no sector e que aumentou de 3% para 6%, sugerindo um sinal não apenas de resistência, mas possivelmente de relutância em enfrentar riscos por parte dos financiadores.
“O número foi apresentado como uma espécie de prova de resiliência, mas receio que seja um sinal de timidez dos financiadores, teimosia dos fundadores e estagnação do sector”, afirma.
Tofel critica a timidez dos financiadores, a teimosia dos fundadores e a estagnação do sector como possíveis causas desse baixo índice de falhas.
Tofel refere que a filantropia institucional gosta de se comparar ao capital de risco, mas observa que este último geralmente possui taxas de insucesso de 30-40%, podendo atingir 65%, ou mesmo 75%, enquanto as organizações sem fins lucrativos de notícias digitais apresentam taxas consideravelmente menores.
O autor sugere que essa diferença pode ser atribuída à falta de crença dos financiadores na retórica sobre correr riscos, ao medo dos fracassos se reflectirem negativamente sobre eles e à prática de investir mais dinheiro mesmo em projectos mal sucedidos.
“Os verdadeiros investidores de capital de risco têm apenas uma medida de sucesso: se vão recuperar o dinheiro que investiram, e ainda mais, num prazo suficiente para satisfazer os seus gananciosos investidores. Esta é uma abordagem demasiado limitada e impaciente para um sector motivado pelo bem público, pelo que deveríamos esperar uma taxa de insucesso muito mais baixa e mais lenta da filantropia”, escreve.
Para Tofel, “qualquer organização sofre as suas próprias dificuldades pelas suas próprias razões, que vão desde o simples azar ao esgotamento dos fundadores e a erros de gestão”.
Mas salienta que, na sua opinião, “a culpa da baixa taxa de insucesso se deve aos financiadores que não acreditam realmente na sua própria retórica sobre correr riscos, que têm medo que os fracassos daquilo que inicialmente foram reconhecidos como experiências se reflictam mal sobre eles e que, por isso, atiram dinheiro bom atrás de dinheiro mau”.
O autor defende a necessidade de aceitar os riscos, argumentando que o caminho para construir organizações sem fins lucrativos de notícias digitais bem-sucedidas ainda é incerto.
Ele destaca questões que continuam a desafiar as redacções.
“Em particular, há questões difíceis sobre audiências a enfrentar e a orçamentação continua a ser mais arte do que ciência – e uma área em que sei que muitas redacções estão a passar um mau bocado. Podemos aprender muitas coisas com os numerosos êxitos alcançados até à data, mas também podemos aprender muito com os fracassos, se ao menos os reconhecermos, os revelarmos e os confrontarmos”, afirma.
Tofel enfatiza a importância de reconhecer, revelar e confrontar os fracassos para impulsionar a aprendizagem e o progresso no campo jornalístico sem fins lucrativos.
“O facto de uma organização de notícias não conseguir prosperar como empresa não deve ser interpretado como um juízo sobre o valioso trabalho editorial que possa ter feito entretanto. Esse bem permanece – como acontece com muitas das nossas publicações antigas actualmente em declínio – e deve ser uma fonte de orgulho duradouro para repórteres, editores e outros”, escreve.
O autor salienta ainda a necessidade de os meios estarem “dispostos a aceitar o fracasso” para estarem “mais abertos a reconhecê-lo” para aprender e estarem “mais rigorosos na exigência de que o financiamento renovado seja atribuído apenas onde ainda há promessas, e não para conter ou obscurecer o declínio”.
“Acredito firmemente que o futuro do jornalismo sem fins lucrativos em geral continua a ser brilhante. Mas a ausência de fracassos individuais tem de ser vista como a fraqueza que é, e as fraquezas que procura esconder, e não como um acaso do sector ou um distintivo de honra”, conclui.