Nos últimos meses, a inteligência artificial generativa entrou de forma espectacular no mundo dos meios de comunicação, permitindo a criação de conteúdos, como textos, imagens, ilustrações e vídeos.

Num artigo publicado nos “Cuadernos de Periodistas” – editados pela APM, com a qual o CPI mantém um acordo de parceria –, Ismael Nafría aponta “o lançamento do ChatGPT no final do ano passado pela empresa OpenAI” como “um ponto de viragem neste domínio, permitindo a qualquer utilizador, de uma forma muito simples, utilizar esta tecnologia para gerar textos a partir de conversas em qualquer língua”. 

Isto resultou num rápido crescimento no número de utilizadores, chegando a 100 milhões em apenas dois meses após o lançamento.

“Posteriormente, a introdução pelos motores de busca de soluções de IA generativa na pesquisa levou a incidência desta tecnologia a um novo nível. Primeiro foi o Bing, graças ao investimento multimilionário da Microsoft na empresa OpenAI. A resposta da Google veio com o lançamento - em fase de teste nos EUA e no Reino Unido - do Bard, um assistente de pesquisa”, detalha Nafría.

Isto afecta a optimização de conteúdo para motores de busca e a estratégia de SEO.

Nos últimos anos, a inteligência artificial já ocupava um lugar de destaque na agenda dos meios de comunicação social, com utilizações que vão desde a geração automática de notícias até à optimização de conteúdos para os motores de busca, passando pela sugestão de temas para cobertura, marcação de artigos, análise do comportamento dos utilizadores, transcrição de textos e muitas outras opções. 

No domínio das assinaturas, a IA tem sido utilizada para personalizar as ofertas de acordo com o tipo de utilizador. Mas o recente impacto das ferramentas de IA generativa acelerou dramaticamente a relevância do tema para os “media”.

Para este sector, que tem estado em transformação e mudança há várias décadas, o autor interpreta a IA como uma reviravolta que apresenta “tanto oportunidades fantásticas como ameaças significativas”.

Estas são algumas das áreas que podem afectar os meios de comunicação social:

Geração de conteúdos: Muitos meios de comunicação planeiam expandir a criação de conteúdo com a ajuda da IA, embora haja um esforço para usá-la como assistência aos jornalistas, não para gerar conteúdo totalmente automático.

Outros meios de comunicação, como a “Wired”, estabeleceram regras claras sobre a utilização correcta destas tecnologias para respeitar a integridade jornalística do produto. O editor da revista, Gideon Lichfield, explicou que a “Wired” pretende estar na vanguarda de tudo o que está relacionado com as novas tecnologias, "mas também queremos ser éticos e devidamente cautelosos". 

A experiência negativa de sites como o CNET, que começou a publicar automaticamente alguns artigos com maus resultados devido a erros, travou experiências semelhantes.

Alterações na pesquisa: Mudanças na forma como as pesquisas são efectuadas ou os resultados são apresentados podem impactar significativamente o tráfego para os meios de comunicação. O trabalho de SEO também precisará de se adaptar a essas mudanças.

A utilização de chatbots, por exemplo, pode alterar significativamente esta situação e ter consequências relevantes para os meios de comunicação social. 

Eficiência: A IA pode simplificar ou optimizar tarefas relacionadas com a produção de conteúdo jornalístico – como análise de dados, transcrição de entrevistas e resumos. 

Por exemplo, a IA pode ser utilizada para analisar grandes quantidades de dados e gerar conclusões ou podem classificar automaticamente os conteúdos.

Proliferação de sítios falsos: A facilidade de criação automática de texto deu origem a sites falsos que copiam ou geram conteúdo de meios de comunicação legítimos – um facto recentemente denunciado pela “NewsGuard”.

Desinformação: A IA pode criar textos, imagens. ou vídeos falsos difíceis cuja autenticidade pode ser difícil de testar.

Personalização: A IA permite a personalização de conteúdo com base no perfil do utilizador, atraindo e retendo subscritores.

Segundo o autor, a selecção temática personalizada é uma das opções, bem como a recomendação de artigos com base no perfil de cada utilizador. A personalização é uma das apostas dos meios de comunicação social, tanto para atrair novos subscritores como para reter de forma mais eficaz os actuais.

Áudio: Os serviços de IA relacionados com a voz permitem a criação de versões áudio de conteúdos com qualidade e personalização crescentes.

Direitos de autor: A utilização de conteúdo por empresas que treinam e “alimentam” algoritmos de IA levanta questões de direitos de autor. 

A “News/Media Alliance” (NMA) nos EUA, que reúne mais de 2.000 meios de comunicação social, apresentou princípios básicos para tentar regular estas questões.

O interesse pela utilização da IA nos meios de comunicação social levou à publicação, nos últimos meses, de vários relatórios, estudos, artigos e guias sobre o tema.

O autor recomenda vários, entre os quais o relatório Artificial Intelligence for Journalists, de “Prodigious Volcano” – um guia sobre o tema, centrado no trabalho jornalístico – e AI and the Media. Now”, da “Disrupt”, que analisa as implicações da IA para os media, entre outros.