Há uma nova modalidade conhecida por "Guerra Cognitiva" (GC), ou cognitive warfare, que é o tema de reflexão proposto por Carlos Castilho no Observatório da Imprensa do Brasil, com o qual o CPI mantém uma parceria.

Segundo o jornalista e professor de jornalismo a "GC" poderá ser uma ferramenta política, cujo principal objectivo é o de “alterar a forma pela qual as pessoas assimilam informações.

Trata-se de uma arma comunicacional que não se limita apenas à produção, em massa, de dados, factos e eventos para confundir adversários”, mas vai para além disso, procurando “gerar e alimentar desconfianças ou resistências sobre todas as informações que vão contra os seus objectivos”.

Castilho diz que o principal objectivo é o de “ocupar o maior espaço possível na agenda de debates, tanto na imprensa, como em espaços públicos, como em parlamentos e redes sociais”.  E por isso, a preocupação principal não é ter ou não razão, mas impedir que o adversário ocupe espaços de debate, e fazer com que fique preso em nichos informativos.

A "GC" fez com que “a veracidade, a exactidão, a pertinência e a relevância das informações produzidas pelos protagonistas da guerra cognitiva ou guerra do conhecimento”, deixassem de ser importantes e passassem para segundo plano, refere.

Neste sentido, diz Castilho, que esta é “a estratégia política onde o presidente Lula tem mais chances” de confrontar os seus adversários de igual para igual, já que o presidente do Brasil não tem o controle total da economia, não conta com o apoio integral das Forças Armadas, nem tem a maioria no Congresso Nacional. Portanto, diz Castilho, “só lhe resta a arena da opinião pública como espaço político para impulsionar os seus projectos de governo”.

“Estamos diante de um tipo novo de confrontação política, viabilizada pela tecnologia digital e pelo fenómeno da concentração urbana”, afirma.

A enorme quantidade de informação na internet leva a que as pessoas não tenham tempo para reflectir sobre novos factos e dados, passando a formar opiniões a partir da aglomeração de notícias de impacto. Por outro lado, a concentração demográfica urbana amplia o efeito viral de comentários e notícias falsas, segundo o professor.

Outros exemplos são dados por Castilho, como o do caso de Sérgio Moro e o Primeiro Comando da Capital, onde as investigações, apesar de inconclusivas, mostraram que houve um segmento político de direita e de extrema-direita brasileira que encheu os meios de comunicação e as redes sociais “com dados, factos e eventos insinuando uma ligação entre o governo do presidente Lula e o crime organizado”.

O que acontece, é que, enquanto um lado tem como objectivo, o de “encher espaços informativos com o maior número possível de novos temas, sem muita preocupação com a realidade dos factos e a fidelidade aos textos jurídicos”, o outro vai procurar contra-atacar baseando-se “na lógica, no ordenamento legal e nas normas institucionais”, diz Castilho.

Para além disso, a "GC" está, entretanto, a gerar uma sensação de insegurança na internet, com a escalada de medo que se tem gerado, como é o caso do governo dos Estados Unidos, que quer impedir que redes sociais de países como a China se apoderem dos dados de cerca de 120 milhões de utilizadores americanos.

Isto quer dizer, segundo o colunista, que a "GC" é algo mais amplo do que apenas uma conquista de “corações e mentes”, porque esta criação de insegurança que se está, também, a tornar viral, é uma forma de guerra, onde todos estamos envolvidos que, apesar de não ser sangrenta, interfere “de forma violenta no ambiente social”, explica.

Perante todo este cenário, o autor deste texto sugere três hipóteses para reduzir os efeitos da "GC": expandir a literacia digital; discutir o tema em espaços de opinião pública “para que as pessoas tomem consciência da sua existência e dos seus perigos”, e relacionar a Guerra Cognitiva aos processos de desinformação para que as pessoas passem a questionar informações e notícias vinculadas a temas sensíveis ou que afectem directamente a sua vida”.