A liberdade de imprensa debatida em conferência em Espanha
A Associação de Imprensa de Madrid (APM), com a qual o CPI mantém parceria e a Ordem dos Advogados de Madrid (ICAM) organizaram uma conferência, sobre o tema “Unidos pela liberdade de imprensa”, por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa.
O evento foi dividido em duas sessões, uma pela manhã e outra à noite. À tarde, foi realizada a terceira edição do Colóquio APM “Expressão da Liberdade”, moderado por María Rey. O primeiro vice-presidente da APM apresentou o principal tema abordado no debate: o declínio da liberdade de expressão e de imprensa no mundo e suas possíveis causas.
Três personalidades relevantes do jornalismo espanhol debateram aquela temática: Pedro J. Ramírez, director do El Español; Nativel Preciado, jornalista, escritor e analista político em vários programas de televisão e Juan Luis Cebrián, jornalista, membro da Real Academia Espanhola, ex-presidente da Prisa e presidente honorário e primeiro director do El País. Os três oradores concordaram que a precariedade, o sectarismo e a desinformação estão entre as principais ameaças à liberdade de imprensa, em Espanha.
Para Nativel Preciado, a precariedade no trabalho é um dos principais entraves para o exercício desse direito. “É muito maior do que há vinte anos, especialmente no caso de jornalistas que arriscam as suas vidas em guerras e situações de conflito”.
O director do El Español, porém, mostrou-se mais optimista sobre as perspectivas da profissão: “Está pior do que há vinte anos, mas melhor do que há dez anos”, afirmou. E apresentou um factor “fundamental” para o futuro do jornalismo: a Google, que disse ter uma grande responsabilidade nesta matéria. “Vai depender se promove um jornalismo rigoroso e profissional ou favorece notícias extremistas, polarização e notícias falsas. A Google não deve ser uma caixa preta com que nos deparamos em cada vez que o algoritmo muda", disse.
Cebrián, por sua vez, foi mais contundente nas suas conclusões: "Há quinze anos que os jornais são, literalmente, zombies, a imprensa clássica está morta" e acrescentou: "a democracia liberal está ameaçada, há muitos países sem democracia e, nos que existem, ela está em perigo, porque não sabemos como organizar o caos que a internet gerou", explicou, destacando as grandes dificuldades que envolvem a transformação digital dos media tradicionais, já que, na sua opinião, são dois mundos diferentes. “A precariedade vai continuar, porque estão arruinados, falidos e sem perspectivas”, concluiu.
No entanto, na opinião dos três oradores, os jornalistas serão sempre necessários para explicar a realidade, cada vez mais complexa. “Tem de haver uma profissão capaz de diferenciar a mentira da verdade, a realidade da ficção”, disse Nativel Preciado.
“Mas é preciso combater três elementos: o sectarismo, a precariedade e o descrédito do jornalismo” e “a complexidade de tudo o que está a acontecer, torna o nosso papel mais necessário do que nunca”, afirmou Pedro J. Ramírez.
A abertura, realizada durante a sessão da manhã da conferência "Unidos pela liberdade de imprensa", foi feita pelo reitor do ICAM, Juan Ribón, o presidente da APM, Juan Caño, e a vice-reitora do ICAM, Isabel Winkels, que seguiu com Miguel Roca, entendido na constituição espanhola.
Segundo Caño, “o ICAM e a APM partilham muitos valores que os tornam instituições fundamentais para preservar e promover a saúde democrática do país.
Durante a sua conferência, Miquel Roca, um dos pais da constituição espanhola e fundador e presidente da sociedade de advogados RocaJunyent, defendeu a liberdade de imprensa, não só para que os cidadãos se expressem e opinem, mas também como "uma protecção aos profissionais do jornalismo”.