Foi publicado, no final de Fevereiro, um estudo intitulado Uncovering news deserts in Europe. Risks and opportunities for local and community media in the EU (numa tradução livre, Revelando os desertos noticiosos na Europa. Riscos e oportunidades para os média locais na UE)”, anunciou a Federação Europeia de Jornalistas.

O relatório é a responsabilidade do Centre for Media Pluralism and Media Freedom (CMPF), do European University Institute.

O estudo analisa os riscos associados às condições de trabalho e de mercado dos média locais, além de identificar boas práticas usadas pelas redacções locais que poderão ser benéficas para o sector como um todo.

Alguns dos principais problemas identificados foram: a relação entre a diminuição das receitas e a distribuição tendenciosa da publicidade estatal e dos subsídios aos meios de comunicação locais; o controlo político sobre os meios de comunicação locais (principalmente, nos Estados-Membros da Europa Central e do Sul); a centralização das redacções nas grandes cidades e a tendência para fazer jornalismo sem sair da redacção; e as más condições de trabalho dos jornalistas locais.

Ainda assim, a investigação revela também a importância das redes sociais nas regiões com menos cobertura noticiosa e das novas formas de captação de público, como as newsletters, os podcasts e o slow journalism. O jornalismo local parece ainda ter um papel relevante na mudança social.

“Os resultados são claros: sem suporte financeiro adequado, sem um contexto regulador de apoio e sem garantias para os jornalistas em zonas remotas, a base da democracia está em risco”, disse Pier Luigi Parcu, director do CMPF. “É essencial mais investigação para informar as políticas públicas”, acrescentou.

O relatório recomenda que as instituições públicas distribuam mais apoios financeiros às redações e jornalistas locais. Devem, ainda, ser garantidas condições de trabalho dignas para os jornalistas locais. “O estudo também recomenda que as empresas de comunicação social locais sejam mais transparentes sobre a sua propriedade e receitas, e que apliquem normas de auto-regulação para evitar pressões políticas e económicas sobre o conteúdo editorial”, pode ler-se no anúncio de divulgação do estudo.

Mapas e gráficos interactivos sobre cada país

Os resultados deste estudo levaram à criação de mapas interactivos que permitem explorar os meios de comunicação noticiosos locais em cada região.

No mapa, estão identificadas, por cores, as zonas em que há mais e menos redacções. Clicando em cada região, temos acesso à lista de jornais impressos, sites noticiosos e rádios existentes nessa zona geográfica. O mapa de Portugal está disponível em: https://cmpf.eui.eu/local-media-for-democracy-country-focus-portugal/.

Para cada país, além do mapa, está disponível o contexto sociodemográfico e histórico no âmbito do jornalismo, bem como gráficos com os principais riscos da imprensa local nesse país.

O capítulo sobre Portugal é da autoria de Dora Santos-Silva, Carla Baptista, Luís Bonixe, Luís Oliveira Martins e Patrícia Caneira, jornalistas e académicos da ICNOVA / Universidade NOVA de Lisboa.

O estudo completo pode ser encontrado aqui: https://cmpf.eui.eu/wp-content/uploads/2024/02/CMPF_Uncovering-news-deserts-in-Europe_LM4D-final-report.pdf.