Os resultados do questionário anual sobre jornalismo de dados revelam um crescimento desta área de trabalho, embora existam ainda muitos desafios, essencialmente relativos à necessidade de desenvolvimento de competências específicas dos jornalistas, revela o European Journalism Centre (EJC).

O questionário, intitulado The State of Data Journalism Survey, é realizado desde 2021, pelo que já é possível comparar resultados e considerar algumas tendências.

“O jornalismo de dados dedica-se a algumas das tarefas jornalísticas mais difíceis e importantes dos nossos dias: a verificação de dados e a recolha de provas”, lê-se no texto de apresentação do relatório.

A edição de 2023 inclui respostas de mais de 750 profissionais e, como habitualmente, apresenta resultados sobre informação demográfica dos jornalistas que trabalham com dados, práticas profissionais mais comuns, características dos projectos e desafios desta área.

O relatório deste ano inclui, ainda, informação sobre o uso de inteligência artificial e de OSINT (Open-Source Intelligence, isto é, informação de fontes abertas, disponíveis para o público geral).

Estes são alguns dos resultados mais relevantes do estudo:

  • Caracterização demográfica: Há cada vez mais mulheres a trabalhar em jornalismo de dados, “com uma representação quase igual de homens e mulheres”. Ainda assim, as mulheres ocupam maioritariamente lugares de início de carreira, e os homens estão mais em posições séniores. Ao mesmo tempo, há uma “prevalência de profissionais jovens, especialmente na faixa etária 25-34 anos”.
  • Ocupação profissional: A maioria dos jornalistas de dados trabalha a tempo inteiro e está integrada em empresas de média. Também o número de freelancers a trabalhar a tempo inteiro nesta área tem aumentado, o que pode significar uma tendência para a flexibilização do exercício destas actividades.
  • Experiência e competências: Os profissionais “possuem predominantemente fortes aptidões jornalísticas, mas existe uma lacuna significativa em competências técnicas, tais como de análise e visualização de dados”. Estes resultados revelam a necessidade de que os jornalistas desenvolvam mais as suas competências específicas neste campo.
  • Acesso a dados: A informação mais comummente usada em jornalismo de dados é aquela que está disponível nos registos públicos oficiais dos governos. Ainda assim, “o acesso a informação de qualidade continua a ser um dos maiores desafios”, havendo variações regionais assinaláveis no que diz respeito ao acesso a fontes e ao enquadramento legal neste âmbito — o acesso é tendencialmente mais fácil no hemisfério norte do que no chamado Sul Global.
  • Projectos: A maioria dos projectos de jornalismo de dados são de médio prazo, sendo realizados em semanas ou meses, o que revela o elevado consumo de tempo deste tipo de trabalho. As equipas costumam ser reduzidas e interdisciplinares, caracterizadas por uma forte colaboração entre profissionais.
  • OSINT e inteligência artificial (AI): Embora esteja a aumentar, ainda é reduzido o número de profissionais que recorrem a este tipo de ferramentas. Quando o fazem, é essencialmente para pesquisa e verificação de conteúdo, “assinalando a lenta integração de tecnologias mais avançadas nas práticas jornalísticas”.
  • Principais desafios: Algumas das dificuldades mais identificadas têm que ver com o “acesso a dados de qualidade”, à “pressão de tempo” para entregar os trabalhos e à “falta de capacidade para fazer análise de dados”. São de sublinhar também os desafios associados ao uso de AI e OSINT, que resultam da falta de conhecimentos e dos medos associados ao recurso a este tipo de informação. Para responder a estas dificuldades, é preciso, entre outras medidas, uma gestão mais eficiente dos processo de trabalho, o aumento das competências dos profissionais e a definição de princípios éticos em jornalismo de dados.

O Data Journalism Survey é organizado pelo Datajournalism.com, um programa criado pelo EJC com o apoio da Google News Initiative.

(Crédito da imagem: vectorjuice no Freepik)