Relatório da EBU sobre jornalismo de confiança na era da inteligência artificial generativa
A European Broadcast Union (EBU, União Europeia de Radiodifusão) lançou o seu relatório anual, desta feita dedicado ao tema Jornalismo de confiança na era da inteligência artificial generativa.
Com a noção de que estas novas tecnologias já estão a “reformatar” a maneira “como as notícias são cobertas, publicadas e consumidas”, o sector dos media deve garantir que a inteligência artificial (IA) generativa é usada para melhorar o seu trabalho, “ao mesmo tempo que mantém a confiança e credibilidade” por parte do público.
Além disso, os serviços públicos de media têm também a responsabilidade de informar o público sobre como a IA está a transformar as instituições fundamentais da vida dos cidadãos — educação, emprego, saúde…
Consciente da quantidade de informação que já existe sobre o assunto, a equipa responsável pelo relatório da EBU, coordenada pela reconhecida jornalista Alexandra Borchardt, quis garantir que o documento oferecia um contributo único, pelo que optaram por dar prioridade ao olhar humano na discussão dos temas e por trazer uma abordagem prática, com disponibilização de muitos recursos.
Ao longo de quatro capítulos, nos quais estão integradas mais de 40 entrevistas a responsáveis de media de todo o mundo, é partilhada informação fundamental sobre a IA no jornalismo, como esta está a ser usada nalgumas redacções e os seus efeitos no público, nas equipas e nos modelos de negócio.
É também explorada a forma como as redacções estão a criar as suas estratégias de desenvolvimento e a implementar os processos de trabalho e os guias orientadores destas mudanças.
Finalmente, são discutidas as questões éticas da IA e as especificidade do papel do serviço público.
No capítulo das conclusões, os autores procuram responder à pergunta: “Como será o jornalismo de confiança na era da IA generativa?”
Para isso, fazem uma lista dos aspectos do “velho” jornalismo que provavelmente se irão manter e aquilo que surgirá de novo (e o que desaparecerá do que conhecemos hoje em dia), fechando com algumas perguntas para reflexão.
- “O velho: isto irá manter-se ou renascerá no jornalismo”: O rigor, os factos, a surpresa e o encadeamento da informação em narrativas/histórias; a responsabilização daqueles que estão em posições de poder; a confiança e a relação de qualidade com os leitores; as escolhas editoriais e a selecção do que é mais importante para o público; o sentido de comunidade; a ligação ao mundo real.
- “O novo: isto irá surgir no jornalismo”: Direccionamento mais sofisticado do conteúdo consoante o que é mais relevante para cada pessoa; mais investigação, menos produção (que será cada vez mais automatizada); desenvolvimento do jornalismo de dados para contar histórias que antes não eram acessíveis (e que são reveladas pela análise avançada de dados); maior inclusão de diferentes públicos com recurso a tecnologias de conversão do texto em voz, da voz em texto, transcrição, tradução…; pouco controlo dos sistemas e plataformas por parte dos jornalistas — “o sector dos media precisa de se apropriar das tecnologias tanto quanto possível”.
- “Algumas perguntas por responder”: Irá a IA generativa forçar as empresas de media a investir nos seus próprios modelos de IA e levar os profissionais a adquirir mais competências tecnológicas? Ou este papel será cumprido por empresas externas? Será que as pessoas continuarão a querer ser jornalistas, agora que as máquinas conseguem cumprir tantas das funções de um jornalista? Será que o espaço ocupado pela desinformação vai suplantar o da informação legítima e fidedigna? Ou as tecnologias de verificação vão evoluir a ponto de desencorajar a publicação de informação falsa? O público irá gostar dos conteúdos criados artificialmente? Conseguirá distinguir as diferenças? …
Para terminar, partilhamos um excerto particularmente significativo: “A humanidade só pode prosperar quando os cidadãos têm informação e educação, e se sentem protegidos o suficiente para assumir riscos calculados. O jornalismo dá-lhes muitas das ferramentas de que necessitam para desenvolver esse sentido de agência pessoal. […] As organizações de media podem contribuir criando o tipo de jornalismo que devem sempre almejar: inclusivo, informativo, envolvente e construtivo”.
Está disponível um vídeo de apresentação do relatório em que a autora Alexandra Borchardt conversa com Nic Newman, senior research associate do Reuters Institute for the Study of Journalism.
(Créditos da imagem: recorte de uma ilustração do relatório da EBU, feita pela equipa)