Relatório analisa percepção do uso da IA no jornalismo

O Reuters Institute publicou, no final de Maio, um relatório acerca da percepção do público sobre o uso da inteligência artificial (IA) generativa em diversos sectores, com especial atenção para os média.
“Registámos quão conscientes as pessoas estão da IA generativa, como a usam e que expectativas têm sobre o grau de impacto que terá” na sociedade, “incluindo se será usada responsavelmente”, lê-se na apresentação.
Para a recolha das respostas foram usados inquéritos online aplicados a amostras representativas da população de seis países de diferentes regiões do mundo — Argentina, EUA, Dinamarca, França, Reino Unido e Japão.
Esta análise permite uma comparação entre países com algumas características comuns — todos eles são “relativamente privilegiados, ricos, livres e com níveis elevados de conexão à internet” —, mas com sistemas de média muito diferentes.
Os principais resultados estão organizados pelos temas investigados.
Uso da IA generativa por parte do público
- Embora haja alguma consciência do que é a IA generativa, entre 20% e 30% das pessoas nunca ouviram falar das ferramentas mais populares.
- O ChatGPT é a tecnologia mais conhecida da maioria das pessoas, em comparação com produtos como o Gemini (da Google) e o Copilot (da Microsoft); cerca de 50% da população entrevistada já ouviu falar daquele sistema.
- São os jovens quem mais usa o ChatGPT: 56% entre os 18 e os 24 anos, comparando com 16% na faixa etária dos 55 anos ou mais.
- Apesar de o ChatGPT ser cada vez mais usado, apenas uma reduzida parte da população o usa diariamente — 1% no Japão, 2% em França e no Reino Unido, e 7% nos EUA.
- Para ter acesso às notícias, IA generativa é usada por apenas 5% das pessoas.
Opinião sobre o uso da IA generativa na sociedade
- O impacto da IA na sociedade é um dos temas em que se registou uma maior diversidade de respostas entre os seis países: em dois deles, há mais pessoas a considerar que a IA vai ter um impacto negativo; noutros dois países, há um igual número de optimistas e pessimistas; e nos outros dois, a maioria das pessoas acredita que a IA vai tornar a sociedade melhor.
- De forma geral, os mais novos e as pessoas com mais habilitações académicas são mais optimistas do que o resto da população.
- Uma maioria (pouco alargada) das pessoas tem a expectativa de que a IA venha a ter um impacto profundo nos vários sectores de actividade — 51% esperam consequências significativas nos partidos políticos e 66% na indústria dos média e na ciência.
- Os participantes confiam mais que os cientistas e os profissionais de saúde irão fazer um bom uso da IA (cerca de 50%) do que as grandes plataformas digitais, os políticos e as organizações de média (menos de 33%).
Opinião sobre o uso da IA generativa no jornalismo
- A pessoas tendem a achar que as notícias produzidas por IA serão menos confiáveis e menos transparentes, embora de produção mais barata e com informação mais actualizada. Cerca de 8% acreditam que valerá mais a pena pagar por notícias feitas por IA do que por humanos.
- Muitos participantes acreditam que os jornalistas já usam a IA generativa nas suas tarefas — 43% consideram que são usados sistemas para edição de gramática e ortografia, 29% para escrever títulos e 27% para escrever os textos. Mais de metade das pessoas acreditam que as redacções, pelo menos às vezes, usam a IA generativa para criar imagens, quando não há fotografias.
- Entre as áreas em que as pessoas se sentem mais confortáveis com o uso de IA para a produção de notícias estão a moda e o desporto. Pelo contrário, a cobertura noticiosa com recurso a IA em áreas como os assuntos internacionais e a política deixam as pessoas muito desconfortáveis.
- A grande maioria das pessoas deseja que exista algum tipo de aviso nas notícias produzidas maioritariamente por IA.
Apesar de os resultados deixarem várias pistas sobre como o público está a percepcionar o crescimento da IA generativa, importa notar que uma grande parte das respostas (entre um terço e metade) foram no sentido de escolhas neutras ou “não sei”, o que reflecte o elevado grau de incerteza sobre o assunto ainda.
O estudo foi elaborado por Rasmus Kleis Nielsen, director do Reuters Institute, e Richard Fletcher, director de investigação da mesma organização.
(Créditos da fotografia: Alex Kotliarskyi no Unsplash)