Um terço da população portuguesa evita estar a par das más notícias. A invasão da Ucrânia é o tema a que mais pessoas tentam “escapar”.

“Portugal encontra-se numa posição intermédia, entre 46 países, com sensivelmente um terço da população a evitar activamente notícias”, lê-se num relatório, recentemente divulgado, pelo Reuters Digital News Report 2023.

“Os portugueses evitam notícias de forma indiscriminada, em detrimento de formas mais selectivas, com 48% dos que dizem evitar notícias a afirmar que, pura e simplesmente, reduzem o acesso àquelas, enquanto 40,8% dizem evitar aceder a fontes específicas de notícias”, refere o documento.

“O evitar activo de notícias afirma-se como uma tendência global à qual Portugal não foge”, lê-se.

Segundo o estudo, “cerca de metade (53%)” dessas pessoas “tenta evitar todas as notícias de forma periódica, enquanto outros (52%), reduzem a quantidade de vezes que olham para as notícias. Os tópicos difíceis são evitados por 32% dos inquiridos.

“Este fenómeno não é alheio à guerra entre a Federação Russa e a Ucrânia, na medida em que ele parece ter contribuído substancialmente para o aumento daqueles que dizem evitar propositadamente notícias”, indica o relatório.

A invasão da Ucrânia “é o tema noticioso que os portugueses mais evitam — 37,6% declaram evitar este tema de forma activa”, seguindo-se as notícias “relacionadas com entretenimento e celebridades (33,8%), o desporto (30,6%) e as notícias sobre crime e segurança (30,6%)”.

Quanto aos temas que os portugueses menos evitam, encontram-se as notícias locais ou regionais (7,0%), cultura (8,4%), ciências e tecnologia (9,4%) e ambiente e alterações climáticas (9,8%).

O mesmo estudo revela que apesar de estar em queda, a televisão continua a ser fonte preferencial na busca por notícias.

No entanto, “regista-se também que os portugueses incluem diversas outras fontes nas suas dietas informativas”.

A imprensa “continua a ter um papel residual”, sendo “a principal fonte de notícias para apenas 4,2% da população”, enquanto a rádio “continua a chegar a cerca de um terço dos portugueses, e é a principal fonte de notícias para 7,1%”.

A internet, no geral, é utilizada por 73,6%, onde, de forma isolada, “as redes e media sociais” são utilizadas “como principal fonte de notícias por 18,8% dos portugueses”.

Relativamente às notícias online, “em média, os utilizadores preferem notícias seleccionadas por algoritmos, àquelas escolhidas por editores ou jornalistas (27%), sugerindo que as preocupações demonstradas fazem parte de uma preocupação mais ampla face às notícias e a como elas são seleccionadas”.

Ainda assim, mais de metade (52,1%) dos portugueses que usam a internet “dizem ter interesse por notícias, registando-se até um ligeiro aumento, de um ponto percentual, face ao ano anterior”.

No entanto, quase dois terços (63,9%) “afirma estar mais interessado em notícias com um pendor positivo e construtivo, ou notícias que se foquem mais em soluções e não apenas em problemas”.

Outra das conclusões deste estudo é que, “em 2023, cerca de sete em cada 10 portugueses, dizem estar preocupados com o que é real e falso na internet, uma proporção semelhante à identificada em 2022”. Além disso, “são os portugueses mais velhos que tendem a confiar mais em notícias”.

No relatório, verifica-se ainda que, “o ranking da confiança em marcas de notícias continua a ser liderado pelo serviço público de media, sendo que 77,8% dos portugueses dizem confiar na informação veiculada pela marca RTP”, seguida pela SIC (78,2%), Expresso (77,3%) e Jornal de Notícias (JN), com 77,1%.

Depois, surge a Rádio Comercial, com 75,8%, o Público, com 75,4%, e a Rádio Renascença, com 73,5%.

“A agência Lusa, que surge pela primeira vez este ano no inquérito, tem a confiança de 73,4% dos portugueses, sendo de destacar a particularidade do alcance da Lusa que chega aos consumidores de forma directa, através do seu website, e de forma indirecta através da utilização que as marcas fazem dos takes produzidos pela agência”, refere o documento.

Ainda no ranking, surge a TSF (72,6%), a TVI (72,0%), a RDP Antena 1 (71,3%), e o Observador (69,9%).

“Entre as marcas em que os portugueses menos confiam surge o Correio da Manhã (55,7%), não obstante ser líder no mercado nacional, em formato impresso ou digital”, diz o estudo.

O trabalho de campo foi realizado no final de janeiro/início de fevereiro deste ano e o inquérito foi realizado online.

O Reuters Digital News Report 2023 (Reuters DNR 2023) é o 12.º segundo relatório anual do Reuters Institute for the Study of Journalism (RISJ) e o 9.º relatório a contar com informação sobre Portugal, em que participam 46 países.

O OberComObservatório da Comunicação, colaborou com o RISJ na concepção do questionário para o mercado português, bem como na análise e interpretação dos dados.