Os padrões de consumo de desinformação em Portugal e Espanha
O Observatório da Comunicação (OberCom) divulgou recentemente um relatório do Iberifier (Observatório Ibérico de Média Digitais) sobre os padrões de consumo de desinformação na Península Ibérica.
O documento analisa e compara os dados de vários estudos, nomeadamente o Eurobarómetro e o Digital News Report (do Reuters Institute), bem como os relatórios do próprio Iberifier e da Fundação FECYT (Fundação Espanhola para a Ciência e Tecnologia).
“A desinformação tem-se tornado cada vez mais relevante no estudo da qualidade democrática dos países e dos seus mecanismos de resiliência”, começa por dizer o relatório.
Os impactos da desinformação são reais no quotidiano dos cidadãos, não se limitando “às esferas mediática, noticiosa e política”, mas tendo também “profundas replicações nas sociedades a todos os níveis, bem como na sua polarização”.
Por ser “um fenómeno multidimensional”, a mitigação da desinformação “só é possível através de uma resposta interinstitucional sistemática, envolvendo actores da sociedade civil, legisladores, partidos políticos, governos, reguladores e forças de segurança”.
No entanto, “a implementação de uma resposta abrangente só é sustentável se assentar em enquadramentos legais eficientes e activos”, e, em Espanha e Portugal, os quadros legais “ainda existem como meras adaptações das orientações gerais da UE e da CE para os países membros”.
No sentido de contribuir para a discussão e implementação de novas medidas, o relatório do Iberifier identifica semelhanças e diferenças entre Portugal e Espanha, deixando, depois, recomendações, quer no sentido da continuidade das iniciativas de sucesso, quer do ponto de vista da inovação.
Algumas semelhanças e diferenças entre os dois países
- Portugal e Espanha apresentam “dietas dos média noticiosos” similares, registando-se uma “elevada dependência da televisão como fonte”, bem como a “decadência dos sectores da imprensa escrita e da rádio” e a “ascensão da Web, sobretudo social”.
- Quanto à preocupação com a desinformação na Internet, esta é ligeiramente “mais prevalente em Portugal (cerca de 70% dos cidadãos afirmam estar preocupados) quando comparada com Espanha (cerca de 64%)”.
- Já no que diz respeito à confiança das populações nos média noticiosos, os dois países divergem bastante, “sendo a Espanha um dos países onde as pessoas confiam menos nas notícias [33.º em 46 países] e Portugal um dos países mais confiantes do mundo [3.º na tabela]”.
- Ainda assim, nos dois países, são as gerações mais jovens, nomeadamente entre os 18 e os 24 anos, aquelas em que é menos difundida “a confiança nos média e na ideia do jornalismo e das notícias como solução para os fenómenos de desinformação”.
- Os jovens manifestam mais “comportamentos negativos em torno das notícias, como o evitar activo de notícias e a perda de interesse”. Contudo, segundo o relatório, estes comportamentos também são prevalecentes entre “os menos instruídos”. Para os investigadores, estes dados ajudam a explicar o “particular impacto no potencial crescimento da polarização em ambos os países”.
Recomendações para o futuro
…na lógica da continuidade
- Estudar os “padrões de comportamento negativos”, tais como a “diminuição do interesse pelas notícias” e o “evitamento de notícias”.
- Apostar nas “abordagens exaustivas em torno de acontecimentos específicos, como processos eleitorais nacionais e regionais, conflitos armados, etc.”, recorrendo a leituras multidisciplinares.
- Estimular o entendimento mais profundo “da circulação de conteúdos de desinformação nas redes sociais”.
- Aumentar o investimento na literacia mediática.
- Promover a “convergência dos quadros políticos e regulamentares”.
… na lógica da inovação
- Desenvolver “investigação mais aprofundada sobre os aspectos que diferenciam Espanha e Portugal”, tanto quanto às dimensões política, científica, económica, como quanto aos fenómenos concretos que ocorrem nas duas sociedades.
- Promover uma “abordagem crescentemente transnacional”, tendo em consideração que tanto a língua portuguesa como espanhola são um “factor unificador” para milhões de pessoas em todo o mundo (236 e 645 milhões, respectivamente).
- Identificar potenciais “rotas de viralização da desinformação através de diferentes plataformas, mapeando tendências entre diferentes tipologias de plataformas de redes sociais”.
- Desenvolver, “de forma crítica e urgente”, a investigação académica e “os quadros regulamentares que estudam e enfrentam as ameaças da inteligência artificial”.
O relatório completo pode ser consultado no site da OberCom.
(Créditos da fotografia: Ron Porter no Pixabay)