“As redacções perpetuaram historicamente a cobertura imprecisa das comunidades de cor. Quer seja no New York Times ou noutros meios de comunicação, divulgam muitas narrativas estereotipadas, conforme revelou um estudo publicado pela Color of Change e Family Story2.

A autora, considera que “com uma cobertura tão distorcida, não é surpresa que essas comunidades tenham não só pouca confiança nos jornalistas, mas também relutância em falar com eles”. E, cita Alicia Bell, directora do Racial Equity Journalism Fund, quando afirma que, “o jornalismo e as redacções como existem agora, simplesmente não existirão no futuro se não alterarem as suas relações com as comunidades”.

Por isso, jornalistas e redacções, “devem trabalhar activamente para construir uma relação de confiança com as comunidades, para poderem avaliar as lacunas das suas reportagens, produzir uma cobertura mais informada, e, finalmente, servir melhor o público local” defende Chan.

Para se produzirem notícias, informações e relatos rigorosos, sobre histórias e experiências das comunidades, é necessário existir confiança. Quando isso não acontece “as notícias e a narrativa acabam sendo menos precisas.”

Segundo Chan, as comunidades podem achar difícil confiar em jornalistas que não partilharam a sua experiência, pelo que defende a importância da representação das várias comunidades nas redacções, como “parte integrante da construção da confiança”.

“Muitas vezes as pessoas acham que as notícias não são feitas para ou por pessoas como elas”, disse Joy Mayer, directora da Trusting News, uma organização que ensina aos jornalistas estratégias para ganhar confiança.

De acordo com uma pesquisa de 2021, da Northwestern University, tem havido nos EUA, uma pressão para existir mais diversidade e abordagens inclusivas nas redacções. No entanto, Adrienne Johnson Martin, editora executiva da Justice Through Journalism, de Memphis, disse que apenas se assistiu a uma mudança “cosmética” nas redacções.

“Provavelmente, agora, publicam-se mais histórias sobre a vida de diferentes etnias, mas se não fizerem parte de uma mudança estrutural, não tem efeito, não mudam a perspectiva, não mudam o relacionamento, não mudam o conteúdo de uma forma significativa que mostre uma compreensão das pessoas”, afirmou a editora.

“Mesmo que as histórias individuais sejam precisas, a imagem que está a ser passada sobre as suas vidas e as suas comunidades está focada em problemas específicos”, disse Mayer.

O relatório também descobriu que havia uma “desconexão total” entre as expectativas e a realidade da cobertura, já que muitos participantes se sentiram desapontados com os esforços dos media para relatar assuntos sobre a sua comunidade.

De acordo com Mayer, é importante que “os jornalistas entendam que as pessoas não confiem neles, porque tiveram experiências nas suas vidas que os levam a desconfiar dos jornalistas. Isso é razoável e racional”. Para alterar a situação, acrescenta, “é o jornalismo que precisa de mudar, não as pessoas.”

É fulcral ouvir o público sobre o que está a acontecer nas suas comunidades. “Depois de estabelecer essa ligação e confiança, elas actuam como contactos, que fazem a ponte entre os membros da comunidade e os jornalistas para ajudá-los a criar melhores relacionamentos” afirma Derrick Cain, director da Community Engagement da Resolve Philly.

É necessário repensar como as notícias são percepcionadas, reconhecer as dinâmicas de poder e compreender as audiências. Para que essa mudança aconteça, a autora destaca a importância de tornar as redacções mais voltadas para a comunidade, com foco em estabelecer parcerias no meio em que se querem inserir.

“Nós literalmente não podemos fazer o nosso trabalho sem o resto da comunidade. Não são apenas 'fontes' que exploramos para o processo da nossa narrativa. São parceiros para contar as suas histórias impossíveis de relatar com rigor sem a sua colaboração”, disse Johnson Martin, que acrescenta, “essa é a mudança que o jornalismo precisa de fazer”.

A parte mais importante do envolvimento da comunidade é estar presente. “As pessoas conhecem-me e confiam em mim porque estou na comunidade, porque vou aos seus eventos” afirmou Babz Rawls Ivy, editor chefe do Inner-City News.

Outra parte importante no processo de restabelecer a confiança é usar transparência no processo jornalístico. “Provavelmente 90% das pessoas nunca se relacionaram com um jornalista e não sabem como o processo funciona. Por isso, é necessário falar sobre qualquer preocupação sobre as fonte e explicar por exemplo o processo de denúncia antes do início da entrevista, o que vai ajudar a ultrapassar algumas das barreiras de desconfiança nas diversas comunidades”.

Kelly Chan conclui o artigo com a uma afirmação de Cain: “Acho que o objectivo final é olhar para as redacções, especialmente as antigas, e fazê-las entender que o envolvimento da comunidade deve ocorrer durante todo o processo, não como uma reflexão a posteriori”.