Mais de metade dos jornalistas inquiridos num estudo recente afirmaram já ter considerado deixar o seu trabalho por motivos de exaustão ou mesmo de burnout.

Os dados estão disponíveis num relatório sobre o equilíbrio entre a vida pessoal e a vida profissional no jornalismo (The State of Work-Life Balance in Journalism), publicado pela Muck Rack, uma empresa de software que agrega informação sobre o sector dos media, e citado pelo Poynter Institute.

No inquérito, que envolveu 402 jornalistas dos Estados Unidos, 56% dos participantes disseram já ter pensado em despedir-se durante 2024, um valor considerado “impressionante” para o autor do relatório, Matt Albasi.

Um dos possíveis motivos para esta percentagem elevada é estarmos em ano de eleições, defende Albasi, que acredita que este número será mais baixo quando se repetir o inquérito no próximo ano.

Outro número significativo: quase todos os jornalistas inquiridos (96%) disseram que, pelo menos algumas vezes, têm dificuldade em “desligar” depois de sair do trabalho.

“Isso leva ao burnout”, considera o autor do estudo. “Como é que se pode ter a expectativa de estar constantemente a correr e correr e correr a toda a hora, se nunca se tem a capacidade de parar e pôr o jornalismo de lado por um bocado?”, interroga-se.

Mais alguns dados do relatório

  • As principais fontes de stress referidas são: volume de trabalho, salários e expectativa de que estejam sempre “ligados”.
  • Dois terços dos inquiridos trabalham mais de 40 horas por semana.
  • A maioria (80%) trabalha “fora de horas” pelo menos uma vez por semana, e quase 70% dizem que as férias já foram interrompidas por motivos de trabalho.
  • Muitos jornalistas têm de dar resposta a vários projectos ao mesmo tempo.

Duas sugestões para mitigar os riscos de exaustão

Para reduzir os níveis de cansaço dos profissionais, pode, por exemplo, ser-lhes dada a possibilidade de escolher onde querem trabalhar — na redacção ou remotamente.

Segundo o relatório, 11% dos inquiridos preferem trabalhar nos escritórios, 45% têm preferência por um regime híbrido e 44% gostariam de poder trabalhar sempre à distância. Estes dados comparam com aquilo que acontece na realidade: 17% trabalham nas redacções, 29% têm um regime híbrido e 54% trabalham remotamente.

Uma segunda proposta para alcançar níveis de bem-estar mais elevados entre os jornalistas é a disponibilização de serviços de saúde mental por parte das organizações empregadoras.

Isto já acontece com um praticamente um quarto dos profissionais (24%), mas 60% dizem que não têm acesso a serviços desta natureza — e cerca de 17% não têm a certeza.

“Esta é uma solução relativamente fácil que pode ter amplas implicações”, afirma Albasi.

(Créditos da imagem: pch.vector no Freepik)