Crimes contra jornalistas continuam impunes na maioria dos casos

De acordo com o Comité para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), na última década, foram assassinados 261 jornalistas enquanto desempenhavam o seu trabalho.
Em quase quatro em cada cinco casos - 78% -, nenhum responsável foi levado à justiça.
Um artigo publicado na "Global Investigative Journalism Review", revela números alarmantes, divulgados no Índice de Impunidade Global de 2023 do CPJ, e que representam um "caminho difícil para a justiça" nos últimos 30 anos, onde os assassinatos de repórteres e membros da imprensa frequentemente permanecem impunes.
"Os assassinatos não resolvidos têm um efeito intimidante sobre jornalistas locais em todo o mundo, minando a liberdade de imprensa e reduzindo reportagens de interesse público", destaca o Índice de Impunidade Global 2023 do CPJ.
"Desde 1992, apenas 47 assassinatos de jornalistas resultaram em plena justiça – menos de 5%", observa o índice deste ano. "Factores como pressão internacional, jurisdição universal e mudanças governamentais podem desempenhar papéis cruciais para garantir essa responsabilização."
Durante o último ano, o CPJ identificou o Haiti como o terceiro país mais perigoso em casos não resolvidos envolvendo a imprensa, o que justifica com "uma combinação devastadora de violência de gangues, pobreza crónica, instabilidade política e um judiciário disfuncional”.

Já a Síria e Somália, que constam do Índice Global de Impunidade em todos os anos desde sua criação, ocupam o primeiro e o segundo lugar, respectivamente, em 2023.
Na Síria, o CPJ identificou 14 assassinatos de jornalistas não resolvidos no último ano. A Somália, que liderava o Índice desde 2013, caiu uma posição, mas permanece um ambiente potencialmente mortal para jornalistas.
Outros países que completam a lista dos 12 piores pela falta de condenação de assassinatos de jornalistas são Sudão do Sul, Afeganistão, Iraque, México, Filipinas, Myanmar, Brasil, Paquistão e Índia.
Citando que dezenas de jornalistas foram, recentemente, mortos em Israel e na Palestina (e que não foram incluídos nos dados do relatório deste ano), bem como a corrosão da liberdade de imprensa em países europeus como Malta, Eslováquia, Grécia e Países Baixos, o CPJ salientou como a falta de responsabilização por ataques e assassinatos de jornalistas se espalha por quase todos os cantos do mundo.
"Os efeitos negativos da impunidade vão além dos países em destaque no índice anual do CPJ", explica o relatório, destacando que "os homícideios não resolvidos têm um efeito intimidante sobre jornalistas locais em todo o mundo, minando a liberdade de imprensa e reduzindo reportagens de interesse público."