As redacções estão a mudar com recurso à inteligência artificial generativa

Mais de 70% dos jornalistas já usaram inteligência artificial (IA) generativa de alguma forma no seu trabalho, segundo um estudo publicado recentemente pela Associated Press (AP).
“Descobrimos que a IA generativa já está a mudar a estrutura e a organização do trabalho, ainda que o seu uso levante preocupações éticas”, lê-se na introdução do estudo, intitulado Generative AI in Journalism: The Evolution of Newswork and Ethics in a Generative Information Ecosystem.
Ainda que os autores do estudo admitam que a amostra de profissionais participantes no estudo não é representativa do universo do sector, a investigação também sugere que a integração do uso destas novas tecnologias é essencial para a sobrevivência de qualquer redacção.
A IA generativa é um tipo de “tecnologia que consegue criar conteúdo novo, como texto, imagens, áudio, vídeo, e outros formatos, com base em dados nos quais foi treinada e de acordo com instruções escritas dadas pelos utilizadores”. O chatGPT é talvez o exemplo mais conhecido deste tipo de tecnologia, mas há muitos outros, incluindo software criado especificamente para uso no contexto jornalístico.
Para o estudo, a AP recolheu 292 respostas, sendo mais de 85% dos participantes da América do Norte e da Europa. Mais de 30% do total dos participantes estão integrados em readacções com mais de 100 pessoas em cargos editoriais, e, em média, os respondentes têm 18 anos de experiência profissional. “A nossa amostra reflecte como alguns dos mais conhecedores e experientes elementos da profissão estão a reagir à tecnologia”, diz o estudo.
Os resultados estão organizados por duas grandes secções: “O futuro do trabalho jornalístico”, que inclui o uso que já está a ser dado à IA generativa nas redacções, e “Considerações éticas”. De seguida, apresentam-se alguns resultados mais relevantes.
“O futuro do trabalho jornalístico”
- 81,4% dos participantes responderam que têm conhecimento sobre a IA generativa.
- 73.8% indicam que eles ou as organizações em que trabalham já usaram a IA generativa de alguma forma.
- As formas de uso predominantes são: produção de texto (69,6%), recolha de informação e “sensemaking” (21,5%), produção de conteúdo multimédia (20,4%), negócio (16,6%), tradução (8,8%), trabalho com dados (7,7%) e transcrição (7,2%).
- 49% dizem que os seus processos de trabalho já mudaram por causa deste tipo de tecnologia.
- 54% dizem que “talvez” permitissem que as empresas de IA usassem os seus conteúdos jornalísticos para treinar os modelos.
“Considerações éticas”
- As principais preocupações identificadas pelos participantes são: falta de supervisão humana (21,8%), falta de precisão da informação (16,4%), enviesamento (9,5%), qualidade reduzida (7,7%), substituição de postos de trabalho (6,8%) e falta de transparência (6,8%).
- 55,8% afirmam que a geração de artigos completos com base em AI devia ser proibido, e 17,6% pensam o mesmo para a geração de perguntas para as entrevistas.
- Para um uso ético da IA generativa, as três estratégias mais referidas são: não usar esta tecnologia (20%), confirmar o produto dado pela IA (15,2%), guias de princípios éticos e legais (14,5%).
- 18% dizem que a falta de formação é um dos grandes desafios no uso da IA generativa.
- Menos de metade têm um guia de princípios éticos para o uso da IA generativa na redacção em que trabalham, embora cerca de 60% dos respondentes tenham consciência de que existem estes documentos.
(Créditos da imagem: pch.vector no freepik)