Woodward aconselha à Imprensa que não morda “o anzol de Trump”…
O autor conta que foi buscar o título que deu ao livro a uma frase dita pelo próprio Donald Trump no seu hotel, quando ainda não era Presidente, em Março de 2016. Foi um comentário em voz baixa, quase “shakespeareano”, mas muito claro: “O poder real é o medo.”
Mas depois não tem pensamento estratégico, “actua por impulsos, não planeia”. Isto coloca os seus colaboradores à beira de um ataque de nervos, mas não tem de fazer o mesmo aos jornalistas:
“A guerra entre o Presidente e a Imprensa só beneficia o Presidente, e devíamos ser frios a este respeito.” Bob Woodward recorda o que disse Ben Bradley, no Washintong Post, no auge da crise com Nixon - que ele e Carl Bernstein se concentrassem na informação, na investigação, e não se metessem na zaragata:
“É isso o que faço agora. Ele chama-nos inimigos do povo? Tudo bem, tem direito a dizê-lo, pela Primeira Emenda da Constituição. Não fico confortável com isso, mas também não me causa um ataque de nervos.”
À pergunta sobre como se deve fazer, então, a cobertura de uma personalidade como esta, Bob Woodward responde:
“Se eu fosse director de um jornal e tivesse cem repórteres a fazer a cobertura de Trump, punha 25 a tratarem das suas declarações, dos tweets, da guerra, da linguagem... e os 75 restantes ficavam fora disso e dedicavam-se a estabelecer as relações de confiança necessárias para conseguirem as notas, os documentos, e contar o que está a acontecer. Isso é o que mais me preocupa.” (...)
Outra pergunta alarga a questão a todos os outros dirigentes populistas, lembrando que a Imprensa tem de lhes prestar atenção, mas, se presta atenção demais, ajuda a promovê-los. A sua resposta é que temos de fazer as duas coisas, porque “Trump enlouqueceu os jornalistas, que se tornaram instáveis, ou a favor ou contra ele”. (...)
O autor recorda que temos hoje um ambiente em que as pessoas não confiam em nós:
“Temos de recuperar a confiança, e a única maneira de o fazer é recuperando a calma - fazer boa informação, apresentar os factos e não ir para programas de televisão dar murros na mesa.” (...)
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Partindo desta mesma entrevista, o jornalista brasileiro Euler de França Belém, editor-chefe do Jornal Opção, escreve que “a Imprensa brasileira morde o anzol de Bolsonaro como a americana morde o de Trump”:
“Emprestaram-lhe visibilidade. Os jornalistas, para além do trabalho de repórter, passaram a escrever textos duros [para] o líder do PSL. O que, longe de afastar eleitores, contribuiu para conquistar novos e reforçar a convicção dos que já estavam integrados. O antibolsonarismo da Imprensa serviu à vitória de Bolsonaro. “ (...)
Mais informação na entrevista original e no Jornal Opção.