O diagnóstico parte de situações que são hoje evidentes: 

“Enquanto que até há uns anos um indivíduo que presenciasse um acontecimento relevante telefonava de imediato a um órgão de comunicação social, hoje prefere registá-lo e divulgá-lo por meios próprios aos seus amigos ou seguidores nas redes sociais. (...) E, assim, cada vez mais os consumidores preferem seguir directamente a fonte das notícias em vez de utilizar o filtro dos órgãos de comunicação social.” (...) 

Criou-se a ilusão, no consumidor, de que “não existe necessidade de pagar por conteúdos jornalísticos”, enquanto nos próprios media tradicionais diminuía o cuidado na verificação de fontes, pela necessidade de “andar à mesma velocidade que as redes sociais”. 

O autor descreve a situação económica dos principais grupos de media em Portugal como estando “no limiar da sobrevivência”, mantendo-se “graças a injecções de capital de accionistas”  - sobretudo na Imprensa escrita -, e os que têm resultados mais saudáveis “ou estão incluídos num grupo cujo objectivo é vender entretenimento; ou misturam entretenimento e jornalismo, sem que sejam bem definidas as fronteiras entre um e outro”. (...) 

Outra evidência conhecida é a da queda no mercado da publicidade. Mesmo no segmento digital, o único em franco crescimento, “uma fatia muito gorda destas receitas é capturada pelos gigantes internacionais (tais como Google e Facebook), não sendo por isso passível de associar estas receitas aos jornais digitais”. 

O autor aborda depois as alternativas: o financiamento público é a primeira, com o risco conhecido da dependência do poder  - que “já existe de forma encapotada, mas tem como único efeito a restrição da concorrência e não o oposto; dificilmente aumentar esse financiamento traria mais independência e qualidade na informação”. (...) 

A segunda será “aceitar que a Imprensa escrita terá sempre que depender de financiamento de accionistas com variados interesses (que podem ir do puro altruísmo à vontade de controlar a informação) – restando regular para que esse financiamento e motivações sejam transparentes para os leitores”. (...) 

A terceira implica “colocar a viabilidade do jornalismo nas sinergias com o entretenimento”. O risco é o de deixar de ser levado a sério e de perder terreno até no mercado do entretenimento, que “está em vias de sofrer a sua própria disrupção digital”. 

“Uma quarta alternativa é a coexistência no mesmo órgão de conteúdos disponíveis gratuitamente e conteúdos pagos”, que tem sido seguida por muitos media em Portugal e um pouco por todo o Mundo, mas tem entre nós mais limitações de escala, pela dimensão do país e do seu nível de desenvolvimento. 

Carlos Guimarães Pinto apresenta os exemplos conhecidos daquilo “que funcionou”, em jornais como The Washington Post ou o Financial Times, trazendo a boa notícia de que “parece haver um caminho para o sucesso na era digital: melhorar a experiência do utilizador utilizando as potencialidades da Internet para o conhecer melhor, e um esquema de preços e pacotes de produtos que alargue a base de leitores pagantes”. 

Mas ressalvando a referida diferença de escala, que torna a comparação  - e possível aplicação do modelo -  inaplicável ao caso português. 

“À medida que as fontes de financiamento passam de quem tem interesse em consumir informação para quem tem interesse em controlá-la, a quantidade, qualidade e diversidade da informação tenderá inevitavelmente a diminuir. A existência de concorrência interessada aliviará em parte o problema de conflitos de interesses, mas dificilmente será suficiente para garantir uma comunicação plural como aquela que é essencial existir em democracia.” 

O autor conclui que, “perante este cenário, parece evidente que a única forma de termos Imprensa livre é garantir que esta continua a depender dos consumidores e não de outras fontes de financiamento”: 

“A criação de novos modelos de relação com os consumidores, novas plataformas de distribuição, e sinergias cuidadosas entre informação e entretenimento serão essenciais para a manutenção de uma Imprensa livre. (...) Quanto mais rapidamente os órgãos de comunicação social conseguirem convencer os consumidores a voltar a pagar pelo seu trabalho, menos longa e dolorosa será a fase de transição.”  (...) 

O artigo citado está acessível na edição Premium do Observador