Os debates sobre a crise de sobrevivência do jornalismo tradicional, sustentado pela publicidade, e a introdução do conceito do jornalismo com um “bem comum”, parecem recentes, pelo menos entre nós. Mas, num artigo publicado há três anos, Jacques Rosselin propunha o seguinte:

“Façamos um cálculo rápido, a partir do número de 1,2 mil milhões de euros anuais do apoio à Imprensa  - cuja concessão pelo Estado, lembre-se de passagem, depende da atribuição de um número da comissão paritária. Se a totalidade desta importância fosse utilizada para a entrega de um rendimento mínimo (sim, estou a escrever bem, um rendimento mínimo) para cada jornalista de informação, o número de beneficiários ficaria pelos 20 mil, sobre a base de um rendimento (sujeito a deduções) de, por exemplo, 60 mil euros por ano, ou seja, uma média de cerca de 3.300 euros por mês.”  (.../...)

“Eles ficavam de repente independentes do seu meio de difusão. Poderiam, com toda a liberdade, trabalhar durante meses numa investigação e propô-la aos editores a quem ela interessa, mediante um suplemento da subvenção. A segurança deste rendimento mínimo permitiria aos jornalistas, desligados dos seus media, formar grupos de trabalho, por afinidades e competências, consoante as suas investigações, e depois propô-las aos editores de sua escolha.”

É o próprio Jacques Rosselin que se interroga e deixa no ar todas as perguntas possíveis sobre a sua proposta:  Utópica? Comunista? Estatista? Radical? Mas ele só chega lá depois de descrever três coisas que todos conhecemos bem:

1.    -  (…) “A produção de uma informação de qualidade fica cara e, depois da invenção da publicidade nos jornais, os seus consumidores nunca a pagaram pelo seu preço e não estão dispostos a fazê-lo.  (.../...) Para os dirigentes dos media, a solução parece ser, invariavelmente, a de baixar os custos de produção, portanto despedir cada vez mais jornalistas e cair cada vez mais numa espiral de rebaixamento de qualidade.”

2.   -  (...)  “Nos media impressos, as redacções já não existem, pelo menos no sentido colectivo do termo. Foram substituídas por agregados de individualidades que produzem informação independentemente, com os directores da redacção a fazerem o papel de árbitros, ou de chefes de estação.” 

3.   -  (...) “A Net alterou muitíssimo os seus métodos de trabalho. Abriu brechas nas salas de redacção (.../...) que se tornaram um espaço comum de trabalho onde se pode, eventualmente, aceder a uma máquina (aliás, cada vez mais cada um leva a sua), ou até uma máquina de café (também se pode levar a sua). (.../...) Mas o essencial da produção e da co-produção, da difusão e dos contactos com os leitores, mudou-se para a Net.  A vida social e o trabalho de equipa partiram ‘para a nuvem’.”

A concluir, diz Jacques Rosselin:

“Os cidadãos de uma democracia têm necessidade de informação, portanto de jornalistas. De quantos? Seria interessante definir o rácio crítico de jornalistas por habitante, como se faz com os médicos. Seja qual for o seu número, é porque a publicidade, as assinaturas digitais ou o preço de venda do papel já não os podem pagar hoje, e que estas dificuldades os tornam dependentes de actores económicos cujos objectivos não têm nada a ver com a defesa da democracia, que a colectividade tem de se ocupar desta questão. Mesmo que não seja pelo rendimento mínimo.”

A propósito de soluções surpreendentes: o livro de Julia Cagé, “Salvar os Media”, a que nos referimos recentemente neste site, já está traduzido e publicado em português pela Temas e Debates


O texto original e a situação presente de Jacques Rosselin: