O autor faz uma descrição histórica do caminho que nos trouxe a este ponto, com o homo sapiens “adaptando-se à tecnologia e adaptando-a a si para atender às suas necessidades, cada vez maiores à medida que crescia o seu poder”.  

No fundo, é a história das ferramentas e das máquinas, que passa pela roda, o vapor, o motor de explosão, a electricidade e a energia nuclear. Cada um destes progressos trouxe “saltos qualitativos de grande impacto na cultura humana”, mas os ofícios do cérebro “não tinham incorporado nas suas tarefas quotidianas ferramentas de potência equivalente, no seu âmbito, às grandes máquinas que usamos todos os dias no mundo físico. Até agora.”  

José Cervera descreve então o que já está a acontecer nos grandes meios de comunicação: 

Já estão a ser usados “bots jornalísticos” que usam as grandes redes sociais para “distribuir notícias ou alertas sobre notícias publicadas noutros formatos, para chegar a novos públicos com o menor esforço (e investimento) possível”. Trata-se, no fundo, de criar “novos canais de distribuição”.  

O El País fez isso com um bot no Facebook Messenger para informar sobre as eleições francesas, e a BBC fez o mesmo na cobertura do processo do Brexit.  

The New York Times deu um passo adiante, com chatbots bi-direccionais, capazes de manter conversas individualizadas com os utentes e responder a perguntas.  

The Washington Post foi ainda mais longe, criando mais de 100 bots diferentes, para funcionarem, dentro da redacção, como ferramentas de trabalho e não só canais de distribuição. Outro dos produtos internos é o Heliograf, um robot capaz de criar histórias simples a partir de dados, usando frases-chave redigidas por jornalistas, que depois selecciona conforme os dados recebidos.  

A equipa sentiu a necessidade de redigir a sua própria versão das leis da robótica de Asimov, descrevendo aquilo que um robot jornalista pode e não pode fazer.  

Também já existem, por exemplo na Associated Press, ferramentas capazes de redigir e publicar os relatórios informativos dos resultados trimestrais das empresas. Os robots “digerem” os formatos standard desses documentos e fazem a actualização em breves peças descritivas, comparando com períodos homólogos.  

A criação de primeiras páginas já chegou ao diário sueco Svenska Dagbladet:  

“O robot encarrega-se de tudo. Os jornalistas podem dedicar-se a pesquisar e redigir notícias. O tráfego aumenta e, com ele, a rentabilidade: o jornal, que estava em perda em 2013, aumentou as receitas, as assinaturas e os lucros. À custa de perder empregos, claro está.” (…)  

José Cervera alerta para o que vem a seguir:  

“Estão a ser desenvolvidos sistemas de aprendizagem que um dia serão capazes de colher informação e de a elaborar em linguagem natural de modo automático. A sua integração com os assistentes pessoais tornaria desnecessários muitos dos meios convencionais para uma parte importante das notícias.”  

“Para cúmulo, este tipo de tecnologia está a ser desenvolvido pelas empresas do sector informático, cujos interesses não passam necessariamente por uma cidadania melhor informada ou por uma democracia mais vital.”  

A sua proposta é a desse “jornalismo ciborg” assumido, não considerando as máquinas como inimigas nem rivais, mas como ferramentas.  

“Neste ponto será vital o papel dos gestores das empresas jornalísticas, porque, se sucumbirem à tentação de usar os bots como processo fácil de ganhar dinheiro, cortando postos de trabalho, a oportunidade vai perder-se. E então acabaremos no outro futuro: aquele em que a conversação social fica dominada pelos interesses das empresas de tecnologia.”   

O texto de José Cervera, na íntegra, em Cuadernos de Periodistas