Na sua palestra integrada no ciclo  “Portugal pós-Troika: que Moeda, que Economia, que Futuro?”,  Teodora Cardoso propôs desde o início, como “o tema em que temos de nos concentrar”, a necessidade de “mudar de modelo”. Recordou a sua experiência das negociações com o FMI, nos anos 70 e 80, nomeadamente quando chefiou a missão no período de 83/84, em que “a quebra de salários reais foi muito superior à que Portugal sofreu nos últimos anos”, e explicou por que motivo não é possível voltar às práticas anteriores: porque “Portugal é agora um país muito fortemente endividado”, e pela “má afectação dos recursos da economia, que a dívida facilitou.”

Teodora Cardoso recordou que, quando se decidiu entrar na moeda única, “passaram-se muitas coisas na economia mundial a que nós estivémos bastante distraídos”:

“A partir do momento em que a União Soviética cai, e os países do Leste da Europa entram no mercado internacional e na União Europeia logo a seguir, e em que a China, a Índia, os países asiáticos, começam a desenvolver a sua actividade internacional, aí passámos a ter de concorrer com milhões de trabalhadores que tinham a mesma capacidade que os portugueses e com salários incomparavelmente mais baixos do que os nossos.”

Como os bancos passaram a ter acesso a um mercado inter-bancário muito maior do que o português, a escolha entre o crescimento a curto prazo  - baseado na construção, nas infra-estruturas, nas despesas públicas -  ou “fazer o tal novo modelo de que a economia precisava para se tornar competitiva, agora num mundo completamente diferente daquele em que tínhamos vivido nos anos 70”, nunca foi objecto de um debate sério:

“A tentação foi sempre a de fazer uma adaptação mista, gradual. (…/…) Só que esta mistura nunca funcionou, realmente. O que funcionou foi o curto prazo.” O que resultou daqui foi “uma enorme vulnerabilidade da economia quando chegou a crise financeira internacional”.

Segundo explicou, “a troika é um conjunto de medidas de emergência, que não podem fazer uma grande mudança estrutural”. Além de que são reversíveis: “Tudo isto que se fez, de cortar salários, cortar pensões e aumentar impostos, tudo isto pode virar. E aí é que é o risco do pós-troika: é que podemos cair nessa tentação  - não seria ao mesmo nível, porque não chegaríamos nunca lá, mas de qualquer maneira, o ter essa tentação, ela existe.”

A concluir, Teodora Cardoso defendeu o investimento no capital humano e lamentou as restrições ao recrutamento no sector público:

“Ainda para mais, com salários a cair, ou no mínimo congelados, com promoções congeladas, etc., o que acontece é que nós não podemos oferecer uma carreira a ninguém, no sector público. As pessoas entram, e eu tenho essa experiência, de gente muitíssimo competente que vem da Universidade, mas sem experiência, e quando começam a ter experiência nós perguntamos como é que os vamos segurar. E só os seguramos enquanto eles estiverem dispostos a ser segurados, porque não lhes podemos dar nada que os atraia, e que os leve também a motivarem-se e a fazerem outro tipo de actividade.”  (…/…) 
A concluir, Teodora Cardoso afirmou ainda:  “O Estado já praticamente esgotou a capacidade de tributar mais as empresas e as famílias, mas ao mesmo tempo vai ter que se gerir melhor, ser mais eficiente, para também poder pagar melhor a quem seja capaz de desempenhar estas tarefas, atrair capacidades, atrair gente qualificada  - o que é, efectivamente, um clima difícil e uma situação difícil de reencaminhar.”