Sobre a decadência das redacções, o autor confirma od factos e esclarece que “não é exclusividade do Brasil, está acontecendo ao redor do mundo, principalmente nos países desenvolvidos como Estados Unidos”: 

“Ela acontece por conta da diminuição nos lucros do negócio, trazida pelo surgimento de novas mídias que baratearam o custo dos anúncios, um dos esteios da sustentação dos jornais. Isso levou os donos de jornais a investir em outros negócios. Mas, aqui no Brasil, há uma particularidade nesse assunto que merece ser destrinchada.” 

Carlos Wagner defende que o Brasil é “carente de informações” e ainda tem “muitas fronteiras para serem ocupadas”: 

“O caminho correcto seria tornar as redacções mais eficientes e não destruí-las. A cobertura que está sendo feita da Operação Lava Jato é uma prova dessa situação. Não existe um brasileiro não queira saber o que exactamente está acontecendo. E nós só publicamos relatórios oficiais por falta de gente para fazer investigação própria  – há vasto material sobre o assunto disponível na Internet.” (...) 

Conta depois, da sua própria experiência, situações que demonstram os vários “nichos de mercado” em condições de serem explorados, a nível do jornalismo local, como das agências de conteúdos (“pequenas empresas onde dois ou três profissionais prestam serviços de texto e imagem”), e recorda: 

“Nos anos 90, eu fui para Angola fazer uma reportagem sobre a guerra civil, um sanguinário confronto entre tropas do governo e da guerrilha que durou anos. Na época, encontrei correspondentes de guerra de vários países. Todos eles, menos a equipe chinesa, eram freelancers – trabalhavam por conta própria e vendiam a produção para os grandes jornais europeus e americanos. O mundo já estava mudando. Nós é que não sabíamos. Lembro que, nos anos 90, o jornalista que montasse o próprio negócio era chamado pelos colegas de ‘picareta’.” (...) 

E conclui: 

“Não tenho dúvida alguma ao afirmar aos pais que vale a pena investir no sonho dos filhos de serem jornalistas. Se a actual geração de donos de jornais não sabe mais ganhar dinheiro, não é problema deles. Não podemos deixar os nossos jovens repórteres serem prematuramente liquidados pela decadência das redacções.” 

“E qual é o papel dos repórteres velhos que conseguiram fazer história na carreira? Nós temos obrigação de compartilhar o nosso conhecimento com as novas gerações de repórteres, seja virando professores nas universidades, seja fazendo blogs, vídeos e palestras ou trocando ideias nas mesas dos botecos em troca de cerveja. Viu? A dona Loni tinha razões para se preocupar comigo. Adoro conversar sobre jornalismo tomando cerveja nos botecos.” 

 

O texto original, na íntegra, no Observatório da Imprensa.  A imagem é do filme de Billy Wilder "Ace in the hole", visto em Portugal com o título de "O grande carnaval"