Selecções de futebol multirraciais ou o fim das “identidades”

O autor começa pelo significado que tinha a palavra “ultramarinos”, aplicada aos oriundos das colónias, e afirma:
“Agora, passados 40 anos, a palavra nos fez sorrir e constatar como a mudança de situações altera até significados, podendo ser usada com humor perante uma realidade evidente: a selecção portuguesa reflecte a história e a própria demografia do Portugal actual.” (...)
Mais adiante, Jonuel Gonçalves recorda:
“No actual governo francês, a diversidade racial estende-se desde brancos europeus a negros, mestiços europeus e caribenhos, árabes e até uma ministra de origem coreana. Em Portugal, o primeiro-ministro é filho de pai indiano de Goa e a ministra da Justiça é negra nascida em Angola.”
Noutro ponto do seu texto, afirma:
"Aliás, em várias partes do mundo as teorias da 'identidade', lançadas por sociólogos ou filósofos aparentemente de esquerda, são hoje largamente usadas pela extrema-direita no sentido de exacerbar diferenças excludentes. Uma teoria manipulável a este ponto perde classificação de científica e ganha perfil ideológico ligado à xenofobia."
Depois de descrever a “mistura humana intensa” nas várias selecções, o autor conclui:
“Mas aqueles que têm passado a vida na luta contra o racismo (em alguns casos até em guerra), olhando aquele rectângulo verdinho do Stade de France, mesmo antes da partida começar, diziam: ganhe quem ganhar, a este nível nós já ganhamos. Ganhou Portugal com golo de Éder, nascido na Guiné-Bissau.”
O artigo original, na íntegra, no Observatório da Imprensa do Brasil - Foto da AFP