Roberto Marinho, crónica incompleta de um magnata da Imprensa
Na mesma entrevista - que aqui citamos do Observatório da Imprensa, com o qual mantemos um acordo de parceria - e respondendo à questão de saber o que revela, sobre o jornalismo brasileiro, o período da sua vida, responde o autor:
“Essa fase da história mostra que o jornalismo teve mais êxito quando apostou na busca da pluralidade, pelo menos a longo prazo. É estranho falar isso num tempo de polarização e redes sociais, em que a melhor chance de acerto é falar para convertidos. A biografia mostra ainda que momentos de mudanças bruscas no negócio da imprensa são cíclicos.” (...)
“A essência do jornalismo altera pouco – a busca da compreensão do poder e das ruas e a tentativa de interacção. Também permanece a dificuldade de empresas e profissionais sobreviverem num país sempre em transformação, com abalos económicos e políticos. O financiamento da actividade continua um desafio tanto de empresas tradicionais quanto de novos grupos.” (...)
Leonencio Nossa descreve alguns dos terrenos novos de investigação que percorreu, quinze anos depois de uma outra biografia de Roberto Marinho, publicada em 2004 por Pedro Bial. Menciona as relações da Imprensa com os bancos e a relação de jornais e revistas com o Estado Novo brasileiro [o período de Getúlio Vargas, de Novembro de 1937 a Janeiro de 1946].
Sobre a participação de Roberto Marinho no DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda, que tinha o poder de censura, nessa “era Vargas”, o autor conta:
“Ele participa do Conselho Nacional de Imprensa, um órgão consultivo criado no âmbito do DIP. Roberto Marinho entra para o Conselho como representante dos empresários. A nomeação foi costurada por Herbert Moses, presidente da Associação Brasileira de Imprensa. Era tempo difícil. Talvez em nenhum outro momento repressivo o Estado tenha asfixiado tanto o jornalismo, seja por meio da censura explícita, seja por meio das quotas de importação de papel.” (...)
Sobre o surgimento da TV Globo, que ocorre no contexto da implantação da ditadura iniciada com o golpe de 1964, Leonencio Nossa explica que “a ditadura militar aproveitou a estrutura e a legislação na área das telecomunicações semeadas no curto período democrático de 1945 a 1964. O Código Brasileiro de Telecomunicações e a Embratel foram aprovados no governo João Goulart. Empresas estrangeiras de telefonia que apoiaram o golpe contra o Presidente acabaram tendo seus interesses frustrados a partir do momento em que a ditadura decide manter o modelo estatal”.
“Nesse momento, Marinho não é influente a ponto de dar as cartas nas grandes negociações. Ele conseguiu as suas concessões de TV nos governos Juscelino Kubitschek e Goulart. No caso do acordo dele com o Time-Life, uma CPI formada pela Arena governista, em pleno mandato de Castello Branco, considerou a parceria ilegal – foi um bom negócio para Marinho, que, assim, se viu livre dos americanos.” (...)
Ainda sobre o período relatado, e o que nos pode ensinar ao jornalismo de hoje, o autor conclui:
“É uma narrativa sobre gerações de repórteres. Vale observar que A Noite, primeiro jornal dos Marinho, surgiu como um colectivo de jornalistas, para usar um termo dos nossos dias. Irineu Marinho reuniu um grupo de amigos e criou seu jornal. O filho, Roberto, levou sempre em conta atender a demandas que outros veículos não atendiam, como fazer um noticiário para a Zona Norte e os subúrbios do Rio.” (...)
“Em momentos de crise, como a insurreição comunista de 1935 ou o levante integralista de 1938, Roberto chegou a rodar oito edições do jornal por dia, algo interessante quando se discute hoje a actualização da cobertura dos sites de notícias na Internet.”
A entrevista aqui citada, na íntegra no Observatório da Imprensa