Robert Picard explicou em Lisboa “fogos cruzados” sobre os media tradicionais

O diagnóstico é mau, o prognóstico pouco animador, mas Robert Picard tem algumas ideias e adianta algumas sugestões. Na entrevista, começa por avaliar a transformação em curso na forma como hoje se procura e se obtém, tanto a informação como o entretenimento.
“Os media tradicionais foram apanhados no meio disto. O entretenimento está a encontrar formas de lidar com isto. Mas o jornalismo ainda está a lutar para encontrar uma saída.”
“O jornalismo nunca foi um produto comercial. Era feito por uma série de motivos: políticos, culturais e sociais. Foi apenas no último século que se tornou comercial, devido à publicidade. Mas agora os anunciantes têm muito melhores maneiras de atingir as suas audiências e comunicar com elas, já não investem no jornalismo. E as pessoas têm muitas outras formas de receber informação e notícias por isso não as estão a ir buscar onde costumavam ir: jornais, telejornais, revistas.”
A reflexão seguinte é sobre a Internet, que “destruiu as relações comerciais existentes. E até que algumas pessoas estejam dispostas a pagar pelo que lêem online vai continuar a existir um problema”.
Sobre o dilema em que se debatem os jornais a este respeito, e a questão da escolha entre um acesso livre, pago ou misto, no jornalismo online, Robert Picard disse:
“Um dos problemas é que os jornalistas acreditam que toda a gente deveria querer e poder ler jornais. Logo não querem vedar o acesso. Mas a verdade é que nem toda a gente quer ler jornais. Nos últimos 25 anos apenas cerca de 20% a 30% das pessoas compram jornais. E parece que na Internet apenas 15% irão comprar.” (...)
Face a toda a concorrência trazida pela Internet, com os cidadãos presentes nos locais a dar “notícias” por smartphone, com peritos e especialistas de todas as áreas a fazerem a interpretação do que sucede, por si mesmos, online, “sem precisarem que um jornalista fale com eles e ponha o que dizem num artigo”, resta aos profissionais fazerem “uma triagem da informação e uma análise cuidada”.
E, no limite, aceitarem que “a maior parte dos jornais vai deixar de fazer a cobertura do mundo, porque basta um ou dois fazerem-no. Não adianta muito encher um jornal de textos de agências internacionais que as pessoas já leram online. Mas notícias sobre a comunidade em que se insere, nenhum outro jornal já deu. Para sobreviver, os jornalistas têm que se tornar cada vez mais locais. E explicar a importância do que acontece lá fora para as pessoas da comunidade ou do país a que o jornal se destina.”
A entrevista de Robert Picard no Observador