Repórter de origem sudanesa fala (e pratica) jornalismo de alto risco
Na sequência da sua revelação dos migrantes vendidos como escravos, as Nações Unidas agiram contra seis chefes de redes de tráfico humano na Líbia, uma estreia para a ONU. Segundo Le Monde, que aqui citamos, foi “uma prova tangível, para esta jornalista, de que o seu trabalho ‘pode mudar as coisas’, mesmo que o calvário dos refugiados que atravessam a Líbia para chegar à Europa continue de outras formas: no dia 21 de Novembro, um barco que transportava migrantes foi abordado e desocupado à força pelas autoridades líbias, no porto de Misrata, na parte oeste do país”.
O pai de Nima Elbagir é jornalista e já esteve preso várias vezes no Sudão; a mãe foi a primeira editora naquele país. Quando decidiu tornar-se ela própria jornalista, sabia as vantagens que podia usar, nomeadamente o seu domínio da língua árabe e conhecimento da África e do Médio-Oriente.
“Eu sou diferente e tiro partido disso” - assume a jornalista, de aspecto cuidado, sofisticado, do alto do seu um metro e 85. “Sou londrina, sudanesa, africana, árabe.” Uma mestiçagem complexa que lhe tem permitido ir mais longe do que outros colegas enviados ao terreno, como explica o artigo que citamos.
Em 2002, foi uma das primeiras jornalistas a contar a história do genocídio silencioso que decorria no Darfur. Em 2014, em plena epidemia do Ébola, esteve na Libéria, nas regiões sob quarentena. Foi depois à Nigéria, aquando do rapto das meninas da escola de Chibok, pela seita armada Boko Haram.
“Ser mulher é uma vantagem, porque inspiro confiança. As pessoas convidam-me a entrar em casa” - explica.
O itinerário caótico da sua família, entre o país do ditador Omar Al-Bachir e Londres, parece tê-la imunizado contra o medo. Embora admita, rindo, um custo psicológico que a “torna humana”.
Segundo Le Monde, Nima Elbagir “assemelha-se sobretudo a um puro produto CNN: no ecrã, um jornalismo agressivo; em público, um sentido do espectáculo sem dúvida potenciado pelos repetidos ataques da Donald Trump contra a estação”.
Ela própria já teve de enfrentar acusações de fake news pela sua reportagem na Líbia. “Não tenho tempo para essa discussão” - comenta. (...) E volta a afirmar:
“Não deixo as minhas emoções tomarem a dianteira, para não parasitar o meu trabalho.”
A artigo aqui citado, na íntegra em Le Monde