Reportagem sobre ambiente é missão arriscada para o jornalista
Um exemplo extremo é o de Rodney Smith, um jornalista independente da Libéria, que revelou, em 2013, o envolvimento de um antigo ministro da Agricultura do seu país num esquema de corrupção que implicava utilização indevida de fundos destinados ao combate a uma infecção denominada dracunculíase (doença do verme-da-Guiné).
Sieh acabou condenado a cinco mil anos de prisão e uma multa de 1,6 milhões de dólares por difamação. Passou três meses na pior prisão da Libéria antes de um movimento internacional de protesto ter convencido o governo a libertá-lo.
No mesmo ano, o repórter canadiano Miles Howe foi enviado para New Brunswick, fazer a reportagem dos protestos do povo Elsipogtog contra uma exploração de gás natural pelo processo de “fractura hidráulica”:
“Muitas vezes, eu era o único jornalista credenciado a testemunhar detenções muito violentas, incluindo de mulheres grávidas no seu terceiro trimestre e de homens atirados ao solo.” Ele próprio foi preso por diversas vezes e, durante uma manifestação, um dos guardas da Polícia Montada apontou para ele e gritou: “Esse está com eles!”
O equipamento que tinha foi-lhe apreendido, a casa foi revistada, e finalmente propuseram-lhe um esquema de pagamento a troco de dar informação sobre “acontecimentos” futuros - por outras palavras, tornar-se espião dos manifestantes. (...)
Os profissionais que vivem experiências dete tipo ficam sujeitos a sofrer de stress pós-traumático, mas muitas vezes são relutantes a tratar-se. Eric Freedman cita Gowri Ananthan, do Instituto de Saúde Mental do Sri Lanka, que chama ao jornalismo “uma profissão em negação”, mesmo quando algumas vítimas reconhecem o preço que tiveram de pagar.
Por exemplo, Howe teve problemas psicológicos graves depois das suas detenções. “O que é que isso me fez? Fez-me furioso, zangado” - conta ele. Howe não procurou terapia até depois de ter deixado o jornalismo, mais de dois anos mais tarde, mas, em retrospectiva, lamenta não o ter feito em devido tempo.
Outros afirmam que as suas experiências os tornaram mais empenhados nas suas missões como jornalistas. Sieh conta que a sua passagem pela prisão “elevou o nosso trabalho a um nível internacional que eu nunca teria alcançado se não tivesse sido preso; tornou-nos mais fortes, maiores e melhores”.
Na América do Sul, os jornalistas nativos e os “etno-comunicadores” desempenham um papel cada vez mais importante na revelação de uma vasta exploração dos recursos naturais, florestas e terra.
E apesar dos códigos profissionais apelarem a uma cobertura equilibrada e imparcial, alguns repórteres sentem-se impelidos a tomar partido nestas histórias:
“Vimos isso claramente em Standing Rock” - diz Tristan Ahtone, membro da direcção da Native American Journalists Association, a repeito dos protestos que se deram, a partir de Abril de 2016, na reserva de Standing Rock, no Dakota do Norte, contra o pipeline ali em construção. (...)
“A poluição e o estrago dos recursos naturais afectam toda a gente, especialmente os membros mais pobres e vulneráveis da sociedade. O facto de os jornalistas que fazem a sua cobertura serem, também eles, vulneráveis, é profundamente preocupante. E os seus agressores agem frequentemente com impunidade.”
“Por exemplo, não houve qualquer condenação pelo assasínio, em 2017, da jornalista colombiana de rádio Efigenia Vásquz Astudillo, que foi baleada quando fazia reportagem sobre um movimento indígena que pedia a devolução das suas terras ancestrais, transformadas em quintas, estâncias de turismo e plantações de açúcar. Como observa uma declaração do Committee to Protect Journalists, ‘O assassínio é a derradeira forma de censura’.”
O artigo aqui citado, na íntegra, no NiemanLab; e o estudo realizado pelo seu autor, Eric Freedman