O desaparecimento do jornalismo local ameaça “a sustentabilidade a longo prazo da democracia”, pelo que deve ser equacionado o financiamento directo de meios de comunicação de interesse público - sendo usados recursos públicos para “apoiar a cobertura da democracia local, por meio de um novo instituto de jornalismo de interesse público”.
É esta uma das principais recomendações do relatório de Frances Cairncross, nomeada pelo governo britânico, em 2018, para elaborar uma investigação sobre o modo de assegurar o futuro de um jornalismo de alta qualidade no Reino Unido. A autora, economista, jornalista e académica (Universidade de Oxford), declara que a perda de postos de trabalho entre os jornais locais representa uma crise na cobertura da democracia:
“O custo do jornalismo de investigação é elevado e raramente parece [conseguir] pagar-se a si mesmo... Perante a evidência de uma falha do mercado no suprimento de um jornalismo de interesse público, uma intervenção pública pode ser o único remédio” - afirma.
O relatório, intitulado A Sustainable Future for Journalism, conclui que “muitos jornais locais, que são vitais para o funcionamento da democracia, são propriedade de editores carregados de dívidas, que têm estado a cortar no investimento e a despedir centenas de jornalistas no esforço de manter as margens de lucro”.
Frances Cairncross acrescenta que não é claro como se pode tornar lucrativa a cobertura de uma assembleia municipal, visto que este tipo de reportagem atrai poucos clicks na Internet:
“Em última instância, a maior ameaça que enfrenta a sustentaibilidade do jornalismo de alta qualidade, e a Imprensa, pode ser a mesma que está a afectar muitas [outras] áreas da vida: a revolução digital significa que as pessoas encontram muito mais solicitações da sua atenção do que antes.”
“Além disso, as notícias que as pessoas querem ler nem sempre serão as que deviam ler no sentido de garantirem que a democracia pode responsabilizar devidamente os representantes públicos.” (...)
As outras recomendações do relatório incluem uma investigação, pelo regulador público, do mercado da publicidade online, para averiguar se a posição de Facebook e Google é demasiado dominante; um novo código de conduta entre editores e as grandes plataformas tecnológicas, supervisado por um regulador para garantir que essas empresas tratam correctamente os editores; e diversas formas de protecção fiscal aos media.
A investigação realizada para o relatório Cairncross revela que o número de jornalistas no activo, no Reino Unido, caíu de cerca de 23 mil, em 2007, para os actuais 17 mil, com fusões e fecho de títulos a continuarem.
O artigo aqui citado, na íntegra em The Guardian. O relatório A Sustainable Future for Journalism, em PDF
A ilustração é do jornal The Church Times, da Igreja Anglicana