A posição de Portugal sobre a desinformação limita-se ao apoio das posições assumidas pela União Europeia. 

 

Note-se, entretanto, que num estudo da ERC, realizado a pedido do presidente da Assembleia da República, foi reconhecida “a dificuldade de intervenção devido à indefinição dos limites do ambiente online e à ausência de competências específicas, reclamando uma maior visibilidade para o número de registo da ERC para que os utilizadores online tenham maior facilidade em identificar as fontes de notícias credíveis”. Assim, a ERC recomendou que o problema fosse abordado e assegurasse maiores poderes ao regulador.

 

Por seu lado, o relatório do Obercom analisou a percepção das fake news em Portugal, concluindo que existem duas ideias erradas: que a desinformação não tem expressão no país e que, a existir, não tem objectivos políticos.

 

A estratégia de desinformação em Portugal é mais centrada na difamação e ataque pessoal, aproximando-se mais do Brasil do que dos países europeus.

 

Os conteúdos de desinformação analisados apresentam “uma menor saliência da questão migratória – ao contrário daquilo que sucede na maioria dos países ocidentais – que contrasta com o maior relevo da corrupção política, nepotismo e promiscuidade dos detentores de cargos públicos”. 

 

Esta conclusão sobre o fenómeno em Portugal tem por base o trabalho realizado pelo MediaLab do ISCTE-IUL, que monitorizou a desinformação no Facebook e no WhatsApp

 

Os dados do Google e do Twitter situam Portugal numa posição intermédia no quadro da desinformação a nível europeu, reforçando que a desinformação em Portugal “é uma realidade e tem dimensão suficiente para enviesar percepção da opinião pública acerca da veracidade da informação e assim diminuir a qualidade da nossa democracia”. 

 

Desta forma, os riscos de desinformação, em contexto eleitoral, são reais, mas o estudo defende que “a urgência em intervir não deve conduzir a medidas arbitrárias no plano governamental, típicas de regimes não democráticos. A Freedom House afirma mesmo que tal como «terrorismo» também o termo «fake news» tem sido cooptado por líderes autoritários para justificar repressão a dissidentes”.

 

As campanhas de desinformação em Portugal existem e seguem um modelo de difusão online. A desinformação é difundida através de páginas “enganadoras” de órgãos de comunicação, de grupos nas redes sociais e de perfis falsos. No caso português está, ainda, por confirmar a utilização de processos automatizados por robôs digitais (bots).

 

O relatório revelou, igualmente, que, em Portugal, a confiança em notícias é alta, mas tem diminuído, principalmente na Internet, verificando-se uma menor utilização deste meio como fonte principal de notícias. 

 

Em 2019, a veracidade dos conteúdos online inquieta três em cada quatro portugueses (74.7%), sendo que a mediatização do fenómeno das fake news e a desinformação, surgem como um problema público, minando a confiança nas notícias.

 

A crescente digitalização das práticas de consumo dos portugueses é reflectida no facto de cerca de 4/5 das pessoas utilizarem tanto a Televisão como a Internet como fonte de notícias. A Imprensa e a Rádio apresentam valores que rondam os 35%. 

 

Todavia, apesar do crescimento dos meios digitais face aos tradicionais, a Televisão continua a ser a principal forma de acesso à informação (58%), seguindo-se a Internet (30.9%), a Rádio (5.8%) e, por último, a Imprensa (3.8%).

 

O relatório revela, ainda, uma situação preocupante: existem cada vez mais pessoas a evitar o consumo de notícias, sendo que 65,9% o fazem pelo menos ocasionalmente. 

 

Aproximadamente 40% dos inquiridos demonstrou cansaço face à quantidade de notícias com que se deparam, criticando o tom escolhido no seu tratamento. 

 

O consumo de notícias através das redes sociais verificou, também, um aumento, principalmente através de apps de mensagens, como é o caso do Whatsapp.

 

Facebook é a rede social mais utilizada pelos portugueses (76.9%), sendo a mais usada para consumo de notícias (52.9%). O acesso a notícias através do site ou de aplicações noticiosas registou uma quebra.

 

Assim, as redes sociais são hoje, para mais de ¼ da população (26.3%), a forma de acesso preferida a notícias online, pois apenas 1/5 da população acede como primeira opção a aplicações ou sites de notícias.

 

“Metade dos portugueses inquiridos afirma que consulta fontes alternativas para verificar se um dado acontecimento está a ser noticiado da mesma forma (51.1%), sendo também comum decidir não partilhar uma notícia por desconhecimento acerca da fiabilidade da cobertura noticiosa (43.1%). Ainda assim, um em cada dez portugueses admite não ter qualquer atitude em relação a conteúdos suspeitos.”

 

A organização alerta para o facto de os “conteúdos simplificados numa imagem ou trecho de vídeo, quando não acompanhados da notícia que fornece o contexto, serem em si uma fonte de desinformação que é necessário evitar”.

 

Uma forma de combate contra a desinformação é o fact checking, que existe em dois modelos, o newsroom model e o independent NGO model. A distinção deve-se às diferenças dos sistemas político-mediáticos. 

 

newsroom model representa organizações de fact-checking associadas aos meios de comunicação social previamente existentes (legacy media). O modelo independente NGO model, mais concentrado no sul e leste da Europa, resulta da formação de organizações não governamentais para projectos, tendo uma maior independência editorial.

 

Apesar de constituírem uma excelente forma de fazer face à desinformação, os fact checkers podem ter algumas limitações, devidas a tentativas de instrumentalização por grupos coordenados para credibilizar determinadas notícias, eventualmente de interesse político.

 

Outro meio de combate à desinformação é o aumento da literacia mediática, pois permite desenvolver a capacidade de os cidadãos reconhecerem e identificarem notícias falsas.

 

“Um índice construído para medir a literacia mediática na Europa, usando indicadores de liberdade dos media, educação e confiança, revela que os países nórdicos (Finlândia e Dinamarca) são os mais resilientes ao impacto da desinformação, estando os países dos Balcãs (como a Macedónia ou a Albânia) no extremo oposto. Portugal aparece um pouco acima do meio da tabela, em 15º lugar entre os 35 avaliados, sendo que o pior indicador é a percentagem de população com ensino superior.” 

 

O jornalismo colaborativo é outro caso que também surgiu como resposta ao combate da desinformação. Este tipo de jornalismo promove as relações entre profissionais do sector, através da procura conjunta de soluções para o financiamento e estabilidade económica e de iniciativas comuns.

 

Mais informação em Obercom.