“Redacções seguras” como plataforma contra censura na Ásia

Taha Siddiqui, distinguido com vários prémios na área do jornalismo de investigação, e com trabalho publicado em meios como The New York Times, The Guardian, France24, Christian Science Monitor, e tendo chefiado a delegação paquistanesa do canal de televisão WION – World is One News, tomou a decisão de sair do seu país quando compreendeu que mesmo o Governo já não garantia a sua segurança.
Numa entrevista com o Ministro do Interior, Ahsan Iqbal, foi-lhe proposto que dirigisse ao comandante do Exército uma carta com um pedido de perdão. Um outro jornalista, seu amigo, intercedeu por ele junto do próprio Primeiro-Ministro, Shahid Khaqan Abbassi, o qual respondeu que, nestes casos, o Governo não podia fazer nada.
Conforme relatado numa entrevista a The Wire - que aqui citamos da GIJN – Global Investigative Journalism Network, mesmo alguns dos seus camaradas de profissão mais velhos sugeriram que procurasse o caminho da reconciliação com os militares e contivesse o seu activismo.
A sua situação em França não é de asilo. Taha Siddiqui obteve uma transferência para Paris, de uma das empresas com que tem trabalhado, mas tem por esse lado um emprego não permanente, em part-time.
O seu projecto, Safenewsrooms.org, é, como explica, “uma iniciativa digital auto-financiada que lancei no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, a 3 de Maio de 2018; a ideia é dar voz aos jornalistas do Sul da Ásia que enfrentam a censura”. (...)
“Quero continuar a trabalhar pelos direitos humanos no Paquistão e no Sul da Ásia e, dada a minha experiência de reportagem nesta região, e a minha própria sobrevivência a uma recente tentativa de rapto, tornar a safenewsroom.org uma plataforma pela qual os jornalistas do Sul da Ásia possam continuar a resistir, tal como eu.” (...)
A sua caracterização das formas de censura em vigor é como segue:
“No Paquistão são os militares, os militantes e a poderosa élite dos negócios. Na Índia, o Governo de Narendra Modi hostiliza os media, enquanto muitos dos seus proprietários e editores apoiam a defeituosa narrativa do Estado” [num caso de corrupção entre dirigentes de empresas de media]. (...)
“No Bangladesh, vemos também como as vozes seculares e daqueles que falam contra o regime e os militares são silenciadas. A seguir, vamos fazer a cobertura do Sri Lanka, onde os media também não são livres, bem como do Afeganistão e de outros países na região do Sul da Ásia.” (...)
No caso do Paquistão, um dos pontos fortes da investigação e do protesto de Taha Siddiqui tem a ver com o rapto e desaparecimento de dissidentes ou activistas, como Raza Khan, que pretendia promover a paz entre paquistaneses e indianos estabelecendo contactos, via Skype, entre crianças de ambos os países.
Já passaram seis meses desde o seu desaparecimento, mas a justiça não tem respostas, nem mesmo uma organização intitulada Comissão de Inquérito sobre os Desaparecimentos Forçados.
A entrevista aqui citada, na íntegra, no GIJN, e a carta aberta que Taha Siddiqui dirigiu ao comandante do Exército, publicada em The Guardian.
Os dados do grafismo incluído são do Relatório sobre Liberdade de Imprensa no Paquistão de 2018