Quando um crítico do “Facebook” adere às artes de Zuckerberg
“Seja qual for a verdadeira história, o evento foi um golpe publicitário para o Facebook; domesticou a maior besta da selva do jornalismo e levou-a tranquilamente ao calcanhar de Aquiles.”
Emily Bell refecte que mais intrigante, ainda, é a alteração de posição do Facebook, que contrapõe a posição que tomou em 2016, quando passou a privilegiar o conteúdo de amigos, o que levou ao desaparecimento dos media na maioria dos feeds.
“Naquela época, Zuckerberg foi atingido por críticas pós-eleitorais conhecidas pelos funcionários do Facebook como ‘a crise’; a empresa ficou presa numa luta ideológica sobre como lidar com notícias e moderação de conteúdo.”
O Facebook News Tab será semelhante à aplicação da Apple News, mas como uma redacção interna, com pagamento regular aos editores.
“E aqui é onde o terreno ético dos editores se torna arriscado. Os pagamentos aos editores por histórias que o Facebook poderia agregar de graça são uma bênção para o jornalismo. A ideia de que haverá uma fonte de notícias diária e regular que não seja repleta de disparates é uma bênção para os utilizadores do Facebook. A definição de notícias como uma categoria distinta de outros ‘conteúdos’ é uma bênção para a democracia. No entanto, a prontidão com que os editores estão, aparentemente, a abraçar o novo acordo de negócios é desconcertante, dado o histórico do Facebook e a total falta de regulamentação”.
Um relatório recente do Projecto de Transparência do Google destacou que um sistema de patrocínio pouco claro pode “aprisionar” vários recursos jornalísticos a um custo relativamente baixo.
Oferecer dinheiro aos editores pelas suas histórias poderia ser positivo para o jornalismo em crise, mas, ao mesmo tempo, trata-se da criação de um mercado não regulamentado. E, se houver cedência da independência editorial, há um condicionamento do jornalismo em prol de pequenas taxas.
A autora considera que faltou analisar as implicações deste tipo de patrocínios em relação ao jornalismo independente.
“As organizações jornalísticas que aceitam dinheiro corporativo externo têm de ser vistas pelo que é: um potencial conflito de interesses”.
Emily Bell adianta, ainda, que talvez estejamos no início de uma era em que as plataformas deixarão de moldar as notícias e a distribuição, contudo, “um sistema desigual de gerenciamento de conteúdo foi o que permitiu que o Facebook lucrasse com a publicação; essa era ainda não acabou”.
Mais informação no texto original de Emily Bell.