Como recorda Weisberg, o jornalismo atingiu a sua “época dourada” entre as décadas de 1960 e 1970. Durante este período os jornalistas eram encarados como verdadeiros heróis, os detentores do quarto poder, que esmiuçavam questões disruptivas como a Guerra do Vietname.


Os repórteres alcançaram, assim,  um certo prestígio.


Na década de 1980, porém, este fenómeno teve um efeito “boomerang”, com as forças políticas a começarem a questionar as acções dos “media”


Tudo isto dificultou a gestão das redacções nas décadas seguintes. Se, por um lado, os editores tinham que lidar com os egos dos colaboradores de maior prestígio, por outro, o Governo começou a minar a credibilidade dos jornais.


Ao mesmo tempo, a emergência da Internet e das redes sociais fez com que gerir um jornal passasse a ser algo mais abstracto, uma luta em todas as frentes. 


Weisberg toma o exemplo de Alan Rusbridger, que descreveu as suas experiências enquanto editor de um título, num período de pressão e descontrolo crescentes. 


Rusbridger assumiu o leme do “Guardian” em 1995 e comprometeu-se com a Internet, mesmo quando não era claro o que isso significaria. Em vez de se concentrar na potencial perturbação do negócio, Rusbridger viu uma oportunidade para o jornalismo.  


O “Guardian”, originalmente sediado em Manchester, e apenas um dos dez principais jornais britânicos em termos de circulação, podia, agora, chegar a um público global. 


Como responsável de negócios, a reputação da Rusbridger é, no entanto, mais questionável. O jornalista foi ridicularizado por assumir que, enquanto não houvesse uma forma clara de um jornal ser jornalisticamente sólido e financeiramente rentável, a empresa teria de viver com grandes perdas. 


Mas, em retrospectiva, considera o autor, pode dizer-se que a sua visão foi justificada. Hoje, o “Guardian” é um dos títulos mais importantes do mundo, o que não teria sido possível caso Rusbridger não tivesse dedicado os seus esforços à Internet da forma como o fez. 


Ora, se no final da década de 90 a prosperidade dos jornais dependia da inovação e do sacrifício, hoje, o sucesso de um título assenta na sua qualidade e na profundidade com que esmiúça o panorama político.


Isto porque o insultos do Trump aos “media” fizeram com que os leitores começassem a demonstrar uma maior disposição para pagarem por conteúdos fidedignos.


Os insultos verbais nocivos do Trump aos “media”, tiveram um efeito quase contraditório, fazendo com que as audiências passassem a prezar melhor o jornalismo.


Para Weisberg, é ainda demasiado cedo para dizer que a crise do jornalismo e da credibilidade são “águas passadas”.


Ainda não existe um modelo empresarial replicável para todos os “media”, mas, o que parece estar a funcionar é uma variedade de meios híbridos, sem fins lucrativos, que preenchem a lacunas de cobertura.


O que as empresas dos jornais mais inovadores parecem ter em comum é alguma forma de apoio financeiro, combinado com a capacidade de agir.


Assim, para Weisberg, cada meio tem de encontrar o seu nicho para sobreviver, razão pela qual a próxima geração de gestores de “media” terá, não só, de dominar a filosofia moral, mas, igualmente, o mundo do negócio.



Leia o artigo original em Cuadernos de Periodistas”