Segundo o autor  - cujo texto editado é a síntese de uma palestra acessível em vídeo -  o que os repórteres fazem na nossa vida quotidiana é criar o terreno em que podemos debater e tomar decisões. Não são essa coisa vaga, esse “vasto pântano a que chamamos media”, que na sua esmagadora maioria “não tem nada a ver com investigação nem com a realidade dos factos”. (...) 

“Todas as coisas boas que tomamos como assumidas numa sociedade livre dependem da realidade dos factos [factuality, no original]. E sem repórteres não temos realidade dos factos.” (...) 

Timothy Snyder cita uma lista dessas coisas, começando pela lei e pela justiça, que “depende da realidade dos factos, e esta depende dos repórteres”. Fala depois da liberdade de reunião, lembrando que para formarmos qualquer organização ou grupo temos de saber coisas em comum, e de aprender coisas em comum. E temos de confiar uns nos outros, o que significa “acreditarmos que existe um mundo de realidade factual”. (...) 

Mas o modo como muitos dos media são organizados, e como muita da política é organizada, baseia-se em “descobrir o que [o cidadão] quer ouvir e então dizer-lhe isso”. 

Se aceitarmos esse ciclo, se nos envolvermos nele, deixamos de ser livres  - afirma o historiador. 

“Sermos livres significa fazermos coisas que são constrangedoras para nós, porque não correspondem àquilo que julgamos que já era verdade, ou que gostaríamos de ouvir, ou que nos é mais conveniente.” 

“Quem é que apresenta os factos que ainda não conhecemos, e que podem ser inconvenientes para nós? Os repórteres, quase só os repórteres.” (...) 

Se nos preocupamos com estes valores, então devemos preocupar-nos com os repórteres  - afirma Timothy Snyder. E propõe-nos três coisas: 

“A primeira coisa é que devíamos todos reconhecer como é desprezível [despicable, no original] para qualquer pessoa, principalmente para um dirigente, dizer que os repórteres são o inimigo do povo.” (...) 

A segunda é ajudar os repórteres, “ler os jornalistas que são de facto repórteres”, lê-los primeiro e só depois partilhar o seu trabalho na Internet, “em vez de deixar que seja a Internet a fornecer-nos um fluxo que consumimos de modo passivo”. E, consequentemente, assinar jornais: “Dada a importância que tem a realidade dos factos, acho que devíamos pagar por ela.” (...)

A terceira, conclui Timothy Snyder, é agradecermos aos repórteres “por aquilo que fazem”: 

“Não é isso que acontece neste país, mas devia ser.”

 

O texto aqui citado, na íntegra, na Global Investigative Journalism Network