A autora menciona a redescoberta de obras como “1984”, de George Orwell, citadas e “indicadas em bibliografias para nos ajudar a compreender as formas de controlo da sociedade e a pensar em como o mundo pode ser no futuro  - parece que com mais cara de passado do que de futuro”. 

Menciona também a “Retrotopia, de Zygmunt Bauman, que se debruçou  “sobre esse movimento contemporâneo de busca de soluções para um mundo melhor, não mais num futuro a ser construído, mas em ideias e experiências do passado”. 

“Nacionalismos exacerbados, fechamentos de fronteiras retornam e se fortalecem depois de um momento de apagamento de fronteiras, da rede mundial conectar pessoas e as migrações se transformarem em movimentações, idas e vindas.” (...) 

“Uma certa nostalgia aparece em diversas áreas na mesma medida em que o ataque à História também aparece. E a onda, sobretudo, é para glorificar simplificando fases, experiências históricas e sociais, actores e lutas. Não vi ainda um desejo por repetir de alguma maneira as extravagâncias e avanços da década de 1920 e sim retornos aos anos de 1950 ou à ditadura de 1964. Essa volta ao passado tem certo cheiro de mofo. Não parece acontecer por motivações benjaminianas de alguma filiação à fileira de vencidos, mas a uma repetição da História como farsa.” (...) 

Onde entra o Jornalismo neste movimento?  - interroga-se a autora. 

Também ele pode cair, no seu agendamento de reportagens “que buscam explicar algum aspecto da História”, na linha deste “pensamento de futuro baseado em um desejo pelo passado”. 

Ou pode, por outro lado, colocar-se “como um novo sujeito a falar da História”: 

“Na busca por essas pautas e nessa relação com a História e a Historiografia, o Jornalismo revisita momentos, personagens, desloca olhares, questiona inclusive discursos que buscam glorificar o passado para imaginar um futuro ao invés de construí-lo.” (...) 

Vanessa Pedro cita, como exemplo desta atitude, a resposta a “declarações que tentavam diminuir a importância de figuras como Chico Mendes”  - na forma de “reportagens sobre o activista, o seu assassinato e a causa que defendia”.(...) 

“Sabidamente defensor da Amazónia e dos povos da floresta, Chico Mendes foi assassinado em 1988 por fazendeiros que se opunham às suas acções como ambientalista e seringueiro. Naquela época, a opinião pública soube do assassinato, se posicionou na condenação da morte violenta e até os livros didácticos o colocaram como personagem importante para a causa ambiental e na disputa de terras no Brasil. Mas o momento actual de reescrita orwelliana da História chamou o Jornalismo a revisitar o tema, o acontecimento, e a reposicionar Chico Mendes como activista e vítima da violência política.” (...)

 

O artigo aqui citado, na íntegra no Observatório da Imprensa.