Quando o debate político no Brasil começa e acaba no “não”

A autora critica, e dirige-se, no seu texto, ao leitor que “esbraveja ser defensor dos direitos humanos, ser alguém dotado de compaixão e respeito, mas que simplesmente cataloga alguém que discorda de você como fascista”, perguntando:
“Você tem alguma evidência que aquela pessoa é fascista? Você conheceu e conversou com todas as pessoas que votarão no Bolsonaro e todas pregam o fascismo? É isso? Essa pessoa é burra e mal informada? Essa pessoa não tem capacidade de pesquisar e decidir, ela é influenciável? Ela é insensível? Insensata? Todas elas são?”
Ao outro lado, pergunta: “Você que tanto se diz justo e correcto vai ofender e criminalizar alguém pelo simples facto de discordar de você? Jura? Do outro lado só tem bandido e sem vergonha? (...) Do outro lado só tem comunista assassino que quer implementar uma ditadura? Todas as pessoas que votarão em outro candidato além do seu são isso?”
Mais adiante, Nathalia Barutti afirma:
“Pode ser que do outro lado esteja alguém que não é simplesmente fascista ou ladrão, pode ser que seja uma pessoa tão ou mais inteligente que você, tão boa ou até melhor que você. (...) Não há certo e errado, nenhum candidato abrange todos os tópicos e ao escolher um candidato você vai negligenciar um tópico que o outro lado defende, não tem jeito, não há perfeição, infelizmente.” (...)
A sua proposta final é que “tentem ouvir para entender”:
“Conversem, dialoguem sem atacar, respeitem a opinião do outro, vocês são melhores do que isso. Parem de catalogar as pessoas sem sequer escutar o que elas dizem.”
Na edição anterior do Observatório da Imprensa, o slogan Ele Não, repetido no título, é representado em artigo de Rui Martins, jornalista e escritor, exilado durante a ditadura militar e a viver na Suíça - onde é correspondente, entre outros jornais, do Expresso.
Tendo escrito antes da ida às urnas, o seu texto descreve a emoção com que participou numa manifestação sob o lema “Ele Não!”, em São Paulo:
“Me lembro das vozes dos jovens há mais de cinquenta anos repetindo o refrão que não conseguia sensibilizar os passantes – 'O povo unido derruba a ditadura' ou 'Abaixo a ditadura'. Os tempos mudaram, a linguagem se compactou, as mensagens pela Internet se abreviam e os slogans ou palavras de ordem se sintetizaram como num tweet — Ele não!. Ele quem? Quem ouve entende e sabe muito bem de quem se trata.”
“Ele é o recém nascido do ovo da serpente. Em alguns meses, incorporou a mensagem do ódio, subjacente em tantas pessoas aparentemente pacatas e as conquista com as promessas e o canto da sereia de um retrocesso, de um mundo reaccionário, no qual serão punidos os desejos de mais liberdade e igualdade das mulheres, negros, índios, pobres, obrigados a se sujeitar ao seu lugar de submissão dentro da sociedade.” (...)
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